A PÍLULA AZUL DA ESPERANÇA

A PÍLULA AZUL DA ESPERANÇA,

Asdrubal, além de trombonista emérito, sempre foi muito chegado ao sexo frágil.

O trombone agia como imã e juntava o mulherio em torno dele, da mesma forma que o açúcar faz com as moscas.

Desde menino, Asdrubal era fascinado pelo instrumento e ouvia, embevecido o seu ídolo, o Zé da Velha, que ele julgava fosse pardo, mas que, depois, ao assistir um vídeo pela Tv, viu que, estranhamente, ele era branquelo mesmo e, aí, pensou; como é que podia um cara branco tirar daquele trombone um som tão delicado, tão melífluo, que dava a impressão até que ele não soprava e, sim, que falava no bocal com o carinho do boêmio apaixonado e o que saia do outro lado era pura poesia?

Seu pai, motorista de taxi, músico amador (tocava cavaquinho) , ao sentir o interesse do rapaz em tocar trombone, fez das tripas coração e comprou, no brechó do Isac, um trombone já bem desgastado, mas que "pra começar", como dizia, era de bom tamanho.

Hoje, já famoso e conhecido como o Asdrubal do Trombone de Vara, é requisitado para mais eventos do que, fisicamente, poderia suportar e ,com a fama, o assédio do mulherio cresceu na razão direta, as noitadas foram inevitáveis e o renomado músico, chegado ao sexo frágil e à bebida, varou os anos nesse embalo.

Mas, o que ele gostava, mesmo, era da Banda de Ipanema, na qual tinha a honra de dar o brado de alerta no início do desfile, acorde este que dava o tom para os companheiros e ensandecia a multidão.

Após o comando, o sax - em tom conciliador - marcava presença; o trompete, nervoso, metalizava o ar; a percussão batia forte, repercutindo no peito de cada folião.

E a cada vez em que Asdrubal do Trombone de Vara fazia os tão afamados floreios, a galera ia à loucura, urrava, gingava e seguia ondulando pela avenida.

Passa o tempo e, inclemente como é, deixa marcas indeléveis e o Asdrubal do Trombone de Vara não seria exceção e, num belo dia (ou noite) aconteceu o inesperado por ele; em plena atividade amorosa, o até então fogoso gladiador nem chegou a adentrar a arena; simples e vergonhosamente dormiu nos braços da companheira!

Inconformado e em pânico, o Asdrubal do Trombone de Vara procurou conselhos e a pílula azul da esperança foi a indicação unânime. Mesmo envergonhado, usou de artifícios e comprou a caixinha mágica, que, acreditava, lhe devolveria o gládio de guerreiro audaz.

- Bem, agora é levar um papo com a Carminha, aquela mulher com fogo nas veias e com os demais atributos muito bem distribuidos e marcar um jantarzinho à luz de velas, acompanhado por um bom vinho e deixar rolar - pensava ele.

Dito e feito! O plano do Asdrubal do Trombone de Vara surtiu efeito e lá estava ele, bem acompanhado, gastronomicamente satisfeito, espreitando a presa e aguardando o momento certo para o bote.

A bula da caixinha mágica informava que a pílula deveria ser ingerida 1 hora antes da sessão. Asdrubal do Trombone de Vara, para garantir o sucesso, tomara-a há 2 horas.

Confortavelmente instalados na cama (enorme) de casal, continuaram a conversa, com a tranquilidade de quem sabe o que está fazendo. Passa 1 hora, 2 horas...e nada!

Já prevendo o desastre, Asdrubal do Trombone de Vara, eleva o pensamento, busca em sua libido uma ajuda, mas o tempo passa e a situação permanece a mesma.

A esta altura, Carminha já dorme pesadamente e ele acaba, também, adormecendo.

Nasce o dia, a claridade acorda nosso amigo com a conhecida ereção matinal; vai ao banheiro e, na volta, percebe que, estranhamente, ela permanece, mesmo que "demi-bombée" como diriam os franceses.

Pressuroso, desperta a Carminha, que leva um baita susto e diz "é agora" e parte para a luta, mas - desgraça - o balão murcha de vez, o que lhe valeu um desprezível olhar da sua comparsa, que voltou a dormir serenamente.

Asdrubal do Trombone de Vara, fica só, olhando para o teto, sentindo o desprazer de quem esperava um "gran finale", um movimento "maestoso" e que, miseravelmente, acabou conseguindo um lamentoso" réquiem".

Asdrubal do Trombone de Vara, para desabafar, confessou aos amigos mais íntimos a sua desgraça e eles procuraram confortá-lo da melhor maneira possível, mas desse dia em diante, passaram a chamá-lo, simplesmente, de Asdrubal do Trombone.

Maldade!

(não deixe de ler a colega Marina alves)

paulo rego
Enviado por paulo rego em 19/08/2012
Reeditado em 30/08/2012
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