CADÊ O LOBISOMEM?

No LIVRO DE PRÉ-COISAS, o poeta Manoel de Barros explora a temática lobisomem.

O autor salienta, no Pantanal é muito propício a assombrações.

E mostra pistas de indentificação da espécie lobinesca:

“Dizem que bebe leite

Houve quem tenha visto até lobisomem de chinelo

Passos no quarto de moça, imitando passo de gente, já ouvi chamar de lobisomem

Parente de viúva aparece muito de noite, pede mingau e vela

São de rondar cozinha

Conversam de cunhado

São mansos de coçar

Andam ora de joelhos, como quatis baleados, ora mancam.

Até mijam prá trás, mulhermente

Dizem que falam fanho

Se chamam de cunhados e se fedem

Pulam de pés juntos

São entes muito hábeis

Os escuros conhecem de apalpos. Têm os olhos desúteis...”

Certa feita, nós outros, graduandos de Letras, alojamos no Passo do Lontra, no Pantanal.

A UFMS possui um espaço reservado às pesquisas neste local. Tinhamos deveres acadêmicos à cumprir.

Seriam apresentações individuais de Trabalhos com Referências Culturais Linguísticas do Homem Pantaneiro.

A jardineira saiu de Campo Grande, lotada.

Cada qual se esmerando nas tarefas preliminares.

Nós, com o LIVRO DE PRÉ COISAS, confiante na arte de improvisar.

Diziamos de nós para nós: - Habemos de tirar alguma cousa dessa obra!

No dia D, estávamos deveras preocupada, os trabalhos seriam apresentados ao anoitecer.

Tivemos no tranco, uma epifânia!

Iremos apresentar um legítimo lobisomem.

Nossa colega preferida, já começou rir. Saimos afoitas, rumo ao Shopping Center, vulgo “pé sujo”.

Com o dito livro em punho, chegamos para o mata mata, fomos direto no vendedor:

- Você conhece algum lobisomem? Queremos apresenta-lo hoje para os estudiosos.

O pantaneiro tem humor apurado!

O corpo inteiro dele ria, mesmo assim, conseguiu balbuciar: - Quando entrar um lobisomem, aviso.

De quando em quando, entrava um possível, com trejeitos, mas, o atendente com as veias do pescoço estufada, não avalizava como tal.

Ficamos no toco por quase duas horas.

O tempo urgia... A amiga da onça, só fazia rir. Também, com o trabalho pronto, podia se dar ao desfrute.

Precisávamos pegar à unha, o assombração. Mesmo se tivéssemos de levá-lo arrastado, o desespero faz milagres!

Finalmente resolvemos busca-lo em casa e sem delongas, íamos direto ao assunto.

O pantaneiro tem humor apurado!

Em nossas visitas, fomos recebidas com apreços, os anfitriões riam, queriam prosear e fazer dagente, cobaia! Será que éramos lobismulher?

Naquela tarde, o Pantanal riu muito!

No cair da noite, apresentamos nossa experiência vespertina, deve estar ecoando até hoje, as gargalhadas, lá no Pantanal!