RICOS OU POBRES ?

Por menos que interesse aos meus colegas de profissão, fui a primeira fotógrafa que Linhares teve e tenho como testemunhas as centenas de pessoas que eu registrei em batizados, primeiras comunhões, coroações, desfiles, aniversários, chás de panelas, casamentos, ou inaugurações. Para aprender essa arte eu fiz muita “caca”, passei muito sufoco, mas depois ganhei muito dinheiro e fui muito feliz, também.

Aprendi a fotografar com meu pai, o saudoso Tenente Nilo, quando ele me deu de presente uma velha máquina Olympus/135, disponibilizou-me filmes à vontade e deixou-me errar muito até eu aprender. Com ele eu passava horas no laboratório fotográfico, ampliando imagens, retocando fotos, aprendendo a manipular químicas, a revelar filmes e papéis, e, muitas vezes, ficando meses com as unhas das mãos escuras, como todo bom fotógrafo as tinha.

Perdi as contas dos desesperos que me acometiam, quando as baterias dos flashes descarregavam sem mais nem menos, quando os cabos quebravam, ou as pestes das Yashicas, Rolleiflexes, Seagulls, Pentaxes, Canons... pifavam na hora do beijo de recepção da noiva pelo noivo, ou da troca das alianças. Isso sem falar no que quase sempre acontecia no final das festas: algum padrinho chato (normalmente bêbado) inventava de querer “uma chapa” com os noivos, exatamente depois que os filmes haviam acabado.

Hoje é tudo muito simples, há máquinas digitais e flashes excelentes, há cartões de memórias por preços bem acessíveis, que permitem fazer centenas de fotos sem necessidade de trocas. Dessa forma, os fotógrafos podem se concentrar em pesquisar e experimentar novas iluminações e ângulos, enquanto se divertem fazendo arte.

Não tenho saudades do tempo em que eu não sabia o que era um sábado à noite só para mim ou minha família, mas me recordo com carinho de algumas poses bem comuns na década de 70: a fotos dos noivos lendo dezenas de telegramas, perto da cama dos pais dela, onde os presentes mais chiques eram panelas de pressão e ferros de passar roupas. Quanto mais chiques eram os nubentes, mais telegramas e panelas tinham para mostrar. Outra pose que não podia faltar e que fechava os álbuns era a do casal olhando para o fotógrafo pelo vidro traseiro do carro.

Nessa época, as boas festas de casamento eram realizadas nas casas das noivas e não tinham hora para acabar. Isso significa dizer que não existiam cerimoniais, nem promoters, nem convites especiais. No máximo os donos da festa tinham de se preocupar com os “penetras” (jovens que não eram convidados, mas apareciam na maior cara de pau), pois a comida era farta.

Os ricos contratavam os bolos, salgados e doces com dona Anita Paiva Rabello, os mais “econômicos”, começavam a cozinhar uns três dias antes: muito frango, muita carne assada, muita “sacanagem” (uma rodelinha de salsicha, uma de queijo branco, uma de tomate e uma de pimentão verde, todas espetadas em palitos de dentes), arroz e muita tripinha. Depois veio o tempo do feijão tropeiro, do churrasco, do saladão da Tia Nenê Ceolin e... tome tripinha também.

Hoje, as boas recepções acontecem em cerimoniais, têm hora para começar e para parar, costumam ser deliciosas, mas os contratantes desse tipo de serviço podem ter de pagar mais de R$100,00 por pessoa, dependendo da qualidade do cardápio escolhido. Quando a festa é de arromba mesmo há duas características: a) os camarões VGs saem logo no início e não quando os convidados estão empanzinados com o jantar à base de filé mignon/peixe/frango; e b) as carnes não são servidas por garçons, porque ricos acham a maior pobreza ficar regulando a fome ou a inapetência dos convidados.

O que me deixa intrigada, porém, é quando eu vou a alguma loja de presentes e vejo uma série deles com uma ou várias etiquetinhas (pequenos círculos) de diferentes cores, uma para cada casal, significando o que os nubentes querem ganhar. Conversando com a dona de uma dessas lojas, descobri que há quem etiquete os presentes, considerando o preço que pagarão ao cerimonial.

Fico na dúvida se são ricas ou pobres as pessoas que dão festas e esperam ganhar presentes de valores similares aos que gastarão, pois em meu entender, comemorações devem ser oferecidas apenas a amigos e esses devem valer por suas presenças e não pelo que possam levar.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 21/08/2012
Reeditado em 26/08/2012
Código do texto: T3841927
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