MINIATURA DE FILOSOFIA

 

Tem hora, minha gente, que gostaria mesmo de ser uma ostra ou um mexilhão!

Por que ? - perguntarão os mais aflitos.

Simplesmente porque já me acho meio ostra, meio mexilhão.

Até esta data, desde que nasci, só tenho ficado na posição de quem leva pancada de um lado e não tem para onde fugir. Vou encarando o mar de frente e tendo atrás de mim algo que não cede, que não amortece o impacto; recebo a onda, encolho-me como posso e preparo-me para a próxima investida. É o meu destino e, até que o pescador divino não me colha em sua rede, seguirei assim.

Sei disso, sou consciente do papel que me foi imposto pela mãe Natureza, mas, amigos, não é nada fácil! Preferiria, se me fosse dado o direito de escolha, a absoluta inconsciência da realidade, o esquecimento dos inocentes, a inteira submissão às inclementes leis naturais, muito mais rigorosas e precisas do que às dos mortais humanos.

Sou, apenas, uma humilde ostra, bivalve como me chamam, fruto do mar, como tantos outros me apelidam, mas tenho dentro de mim a carne que todos têm e, também, o que a maioria nem sequer suspeita, um pequenino coração.

E é, justamente, esse minúsculo órgão que faz a grande diferença, pois ele é o responsável pelos anseios maiores, pela aspiração poética, pelo desejo incontido de sair do mar, da rocha indiferente, de ascender ao céu, e de – suprema glória – um dia, com a ajuda do Mestre, transformar-se numa radiosa estrela e iluminar, amorosamente, aquele mesmo mar de onde veio.

Sou uma ostra, senhores, mas dentro de mim bate um coração , que mesmo pequenino, é muito maior que eu!

paulo rego
Enviado por paulo rego em 22/08/2012
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