Dia do Folclore

Os jornais só nos trazem notícias boas. Folclóricas até. Não pela sua criatividade, mas pela repetição. Leio hoje (22/08, Dia do Folclore) que o Brasil “é líder mundial em rodovias com pedágio”. Acrescentaria: líder mundial também em rodovias com dispositivos eletrônicos de aferição de velocidade – os chamados “pardais”.

Ontem a notícia que li foi a de que o Brasil é o “quarto país mais desigual da América Latina”, atrás apenas de Honduras, Guatemala e Colômbia. Vivendo em nosso país, segundo era ainda noticiado, “37 milhões de pessoas na linha da pobreza”.

Tratam-se de situações em que o povo é sempre o menos contemplado. Apesar de pagar para trafegar nas rodovias; de contribuir para o aumento da arrecadação dos governos municipais, estaduais e federais com o pagamento sempre crescente de multas de trânsito nas estradas e vias urbanas; e de sofrer com as conseqüências de uma desigual distribuição de renda e oportunidades de emprego.

As manchetes, portanto, são nesse nível. Nada que dê motivo aos brasileiros para se acharem em situação de conforto. Ou amparados. Ou incluídos num rol de procedimentos que lhes sejam favoráveis.

Há muito sabemos que o nosso país é líder também na cobrança de impostos. Setores mais ao lado da burguesia ou de camadas abastadas são os primeiros a reconhecer essa realidade. Mas não parecem interessados em que ela se reverta. E continuamos como estamos – à espera de novas manchetes do mesmo tipo.

Quanto ao noticiário televisivo, não há grandes diferenças. Apenas merece destaque o fato de que os tele-jornais de hoje nos lembram do que ouvíamos quando crianças, normalmente proclamado com seriedade pelos adultos: “o crime não compensa”. Digo que nos fazem lembrar porque hoje ocorre exatamente o contrário – na maioria das situações são grandes as evidências de que o crime pode compensar.

Convalescendo-me de recente cirurgia, pude me “deleitar” com os programas jornalísticos da TV aberta. Quase todos veiculam as mesmas notícias. Nos “Fala Brasil”, “Jornal Nacional”, “Cidade Alerta” e outros do tipo deparamo-nos com crimes de toda espécie, na maior parte dolosos: latrocínios, assaltos à mão armada, sequestros-relâmpago, arrastões, “saidinhas de banco”, explosões de caixas eletrônicos, assaltos a residências, bancos, casas lotéricas, joalherias, postos de combustível, brigas entre torcidas organizadas com morte, estupros, agressões a mulheres, etc. Em grande parte dessas ocorrências, seus autores conseguem se evadir e em muitos casos acabam não sendo identificados nem presos. Mais uma vez perde com isso a população. Porque essa sensação de impunidade estimula o cometimento de novos delitos. Evidenciando-se, a partir da incidência acentuada desses atos, a incompetência dos serviços de segurança oferecidos à população. Na medida em que os delitos não conseguem ser reduzidos e nem seus autores retirados de circulação.

Observa-se, contudo, que são poupadas as autoridades constituídas das ameaças a que todos estamos sujeitos a qualquer hora do dia e em qualquer parte do Estado. Vale aqui acrescentar o que pondera um juiz de Direito da Associação Juízes para a Democracia, para quem “na fantasiosa guerra urbana, nenhum coronel foi atingido, nenhum delegado, nenhuma autoridade do Estado do Rio de Janeiro foi ameaçada”. Esclarece ainda o magistrado que a juíza Patrícia Acioli foi o único caso de autoridade executada no Rio de Janeiro, assim mesmo pelas próprias forças de segurança do Estado e não pelos bandidos.

De qualquer modo, vem crescendo o número de crimes contra policiais civis e militares, estes de menores patentes. Numa demonstração inequívoca do fortalecimento das ações criminosas contra pessoas que integram forças mantenedoras da ordem, quando se tratam de brasileiros pertencentes às camadas mais populares.

É, mas não podemos deixar de lembrar que o poder aquisitivo da população aumentou nos últimos anos, no que corresponde às compras a prazo, agora mais accessíveis a todos; que menos gente passa fome, apesar dos “37 milhões ainda na linha da pobreza”; que o país é a sétima ou sexta economia do mundo; que o país ostenta os maiores índices de urbanização na América Latina; que apesar da elevação acentuada dos impostos, o país consegue manter estabilizados os índices de inflação, etc, etc. E que, obviamente,

Hoje é Dia do Folclore!

Rio, 22/08/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 22/08/2012
Reeditado em 27/08/2012
Código do texto: T3843805
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