Sinceridade clandestina

Muitos vivem confortavelmente com o silêncio. Contar o que se sente, sem receios e restrições, exige segurança e intimidade com o seu próprio aconchego. A sinceridade, muitas vezes, esbarra na personalidade e limitação de cada um, mas traz consigo a liberdade, a oportunidade, a invasão, o alívio, o arrependimento, a culpa, o fracasso, a expectativa, a ação e por fim, a resposta.

Aquilo que se quis dizer e não foi dito, aquilo que ficou guardado porque você jurou ser inconfessável, a vontade que não foi atendida e a emoção que ficou sem significado. O choro que ficou preso na garganta até que ela começasse a doer, porque o desejo de segurar aquela lágrima, que não podia apontar nos olhos, precisou ser atendida antes de qualquer sensação. É como se a sinceridade consigo mesmo precisasse ser condenado sem ter um juiz.

Como se não houvesse tempo de ter um sono a sós, a gente quer, mas nem sempre seguir todos os impulsos está no nosso próprio poder e controle. Às vezes é preciso ser casual com a própria sinceridade, fingir para si mesmo, ocultar as próprias vontades em nome do que ainda é místico. Deixar a presença sair de cena, se deixar levar pela sinceridade que só pode ficar nos próprios sentimentos, enganar a própria saudade e fantasiar sem ter hora de parar. Até descobrir que o que você diz já não é verdade e que se “auto proteger” pode machucar ainda mais, que a falta de clareza virou defesa.

Movidos pelo desejo, todos possuem escolha, mas quando o envolvimento já dorme com você não dá para se derrapar no silêncio e nos próprios “achismos”, ou mesmo acreditar que beijos irão substituir o que não foi dito, que encontros eventuais suprirão todas as perguntas, respostas e as dúvidas. Cada vez mais devagar tudo dá nó, não há nós, há você e há ele, apenas. É saber tudo sobre si e projetar os próprios ideais no silêncio.

Falta de sinceridade dói. Dizer, mas não saber como também. Ver os dias virarem anos e levar toda a sua falta de ousadia também. Quando se encara a própria falha é como compreender que o silêncio se tornou um atalho para uma espera que não tem hora marcada, mas está lá, quem sabe por uma tarde, uma eternidade ou até quando durar sua saudade.

É como descobrir que aquele mundo colorido só existe dentro do seu melhor, e isso nem você nem ele puderam conhecer. É como olhar pra trás e refazer dentro de si as próprias verdades para diminuir a ansiedade pelas palavras que já passaram e culparam a felicidade. É profetizar pelo futuro para não ficar na vontade de um quase amor.