...A guarânia que aprendi com meu pai!
 (Dedico esta crônica a meu Pai José Jorge Amuy)


            Cresci ouvindo meu pai cantar uma guarânia denominada SAUDADE, cuja letra foi escrita por Mário de Ascenção Palmério*, que mais tarde – quando eu contava com 32 anos de idade - viria a ser 'meu patrão' na Universidade de Uberaba - MG, onde iniciei minha carreira docente! Recordo aquelas férias que passamos em Vitória no Espírito Santo. Era o ano 1979 e eu aguardava o resultado do vestibular. Um amigo iria telegrafar  para dizer se eu havia sido aprovada ou não. Enquanto isto, curtíamos as férias naquelas belas praias no estado do Espírito Santo. Eu tinha acabado de completar 18 anos de idade, era jovem, alegre, extrovertida, sonhadora, cativante e bonita. Cabelos longos, lisos e já pintados de loiro. Ah! A ‘loirice’ sempre fez parte de mim. Penso que foi assim porque quando criança eu tinha cabelos loiros. Depois, com o tempo, foram ficando castanhos claros, castanhos escuros e agora brancos. Sim. Tenho todos os cabelos da minha ‘linda cabecinha, branquinhos’. Obrigada, Loreal! Dá trabalho pintar de 15 em 15 dias, mas só por você existir já me sinto feliz! Embora eu já esteja me preparando para assumi-los daqui uns 12 anos. Tenho percebido que minha vida muda de ciclos de 12 em 12 anos. Como? Estabelecendo como critério ‘as mudanças inesperadas’. Nada de tão traumático, embora houvesse tido algumas boas lágrimas, seja de tristeza ou de alegria. A vida é assim. E, que assim seja. Não quero ter a bussola o tempo todo sobre o meu comando. Deixei de contar as horas, os dias, os meses, os anos, sem qualquer represália a eles. Simplesmente deixei de observá-los sobre o prisma do ‘tempo humano’. Sinto-os, hoje, na numinosidade do infinito amor de Deus por mim. Quero o instante, o agora, o momento, o átimo do segundo que não traz qualquer dependência de mim mesma!  E, em todos eles quero ser quem sou com todos os meus defeitos e virtudes, e com a consciência de que deles tomo conta na medida em que dou conta de ‘suportá-los’ ou não, em mim, e sem ferir ninguém, é claro!  De ‘Romeu e Julieta’ à Sartre - “Um homem não pode ser mais homem do que os outros, porque a liberdade é igualmente infinita em todos” - passo os dias, na companhia de Kant – Não há garantias. Do ponto de vista do medo, ninguém é forte o suficiente. Do ponto de vista do amor, ninguém é necessário”; ‘brigo’ (rsrsrsrs) com a sutileza de Friedrich Nietzsche em “Amamos o desejo e não o desejado” ou “Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar”; e caio de joelhos na graça infinitamente miraculosa e crística, de Jesus, o verbo que se fez carne e habitou entre nós, em “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, ainda que eu continue ‘demasiadamente humana’, não é Nietzsche? Passei no vestibular. E enquanto eu ‘pegava as ondas’ – Ah! Como eu sorria! - na ‘beiradinha’ da praia, meu pai, ao meu lado, cantava:
 
SAUDADE

Si insistes en saber lo que es saudade,
Se insistes em saber o que é saudade,
Tendrás que antes de todo conocer,
Terás que antes de tudo conhecer,
Sentir lo que es querer, lo que es ternura,
Sentir o que é querer, o que é ternura,
Tener por bien un puro amor, vivir!
E ter por bem um puro amor, viver!
Después comprenderás lo que es saudade
Depois compreenderás o que é saudade
Después que hayas perdido aquel amor
Depois de ter perdido aquele amor
Saudade es soledad, melancolia,
Saudade é solidão, melancolia,
Es lejanía, es recordar, sufrir!
É nostalgia, é recordar, sofrer!
ou
E, na distância, recordar, sofrer!

E, agora, neste exato momento, ele está, mais uma vez, internado num leito de hospital! Força, Papai! Eu te amo muito e você sempre soube disto!
 
 Liliane Prado
                    (Exercício Literário Real)

 
 
* Mário de Ascenção Palmério, nasceu no dia 01/03/1916 em Monte Carmelo e faleceu em Uberaba, 24 de setembro de 1996. Foi um professor, educador, político e romancista brasileiro.
Liliane Prado
Enviado por Liliane Prado em 25/08/2012
Reeditado em 06/06/2013
Código do texto: T3849141
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