LIVROS DE CABECEIRA

Como leitor voraz que sempre fui, tive (tenho) meus livros prediletos, aos quais volto para uma leitura às vezes completa, ou então para degustação de algum trecho.

Assim, desde que li O Pequeno Príncipe por volta dos 13, 14 anos, o livro passou a habitar debaixo do meu colchão para releituras ou consultas esporádicas. Do mesmo jeito foi com Aventuras de Huck, de Mark Twain.

Com o tempo a gente vai depurando o gosto e os gestos. Passei, desde a adolescência, a levar para a cama livros de poesia ou hq. Lembro de um Hamlet estilo graphic novel que era do meu irmão, adorava ler aquilo, decorei até algumas falas... Drummond, Vinícius, Cecília e Bandeira passaram a fazer parte da tchurma que morava debaixo do travesseiro.

Pro colchão não ficar muito alto, adotei uma espécie de rodízio, aos quais se somaram, com o passar dos anos, a Bíblia (basicamente o livro de Eclesiastes e, menos constantemente, Salmos, Cantares e Provérbios), Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, Cartas a Um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke e, mais recentemente, Poesia Pois É Poesia, de Décio Pignatari.

Mais recentemente uma vírgula, pois quem mal nasceu (há duas semanas) e já mudou-se para a cabeceria da cama é Bentevi, Itaim, do poeta e produtor cultural Akira Yamasaki. Livro soberbo, inspirado, robusto, nasce já antológico, cheio de vida e flores. Tem sido alvo de leituras, releituras, transleituras e outras "turas" quase todas as noites antes de dormir. Mais que isso, é quase o incenso que perfume a antessala de meu sono, naqueles minutos gostosos em que os cílios vão baixando as portas e... quando você acorda, o livro tá caído no chão.

Tomo a liberdade de pinçar três poemas aqui, só pra servir de indicação. Se gostarem, sugiro uma visitinha ao sítio virtual deste poeta vistoso (http://blogdoakirayamasaki.blogspot.com.br/), para deleite e boa companhia. Lá tem pão, café, leite, chá, broa, bolacha e outros manjares deliciosos. Fartem-se!

"poça"

sobre a poça

o passo passa:

- licença, lua

"pausa"

a caixa do posto de gasolina

suspirou enquanto introduzia

o mastercard na maquininha:

- ai que calor de repente

acho que estou com monopausa

- comadre, não seria na menopausa?

- monopausa, menopausa

acho que é só uma minipausa

débito ou crédito?

"poema inútil"

(para nilson galvão)

do ninho de tsunamis

um escapou e saiu pra passear

das desgraças que semeou

uma ficou em particular

fukushima e a poesia inútil

perplexa diante do mar

(http://blogdoakirayamasaki.blogspot.com.br/)