CIDADE DAS ESTRELAS

Catarse? Não sei. Catarse ao contrário? Talvez. Que tipo de comunista sou eu, que tem hoje no volante de um velho automóvel seu maior prazer? Sei que algumas pessoas me amam e respeitam – dote este que, convenhamos, não é pra todos. Vejo os olhos felizes destas pessoas quando cruzam comigo, quando me cumprimentam, quando se aproximam de mim, me beijam, em minha casa sorriem pra mim o tempo todo como se estivessem próximas do Escolhido. É meio forte, eu sei. Apesar de tudo, o fato é que nos últimos dias é mesmo o volante da Parati o que mais me tem dado prazer. Um pequeno prazer. Quando dirijo é meio que um momento de meditação. Meditação parcial, acompanhada do som do motor, mais paisagem ao redor... a vida passando. E ainda a responsabilidade de manter-se vivo na estrada – o que, por outro lado, impede a meditação plena. Besteira. Sei que nunca conseguirei na vida meditar de verdade. A vida é, como sabemos, feita de som e fúria.

Onde está, na prática, minha “luta de classes”, meu desapego, minha justiça, meu senso de doação, minha compreensão infinita, meu menino-herói, meu feminismo... minhas chaves?

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O que é a química?!?... Era o fim do texto. Não é que fui tomar uma boa xícara de café com um pão na chapa, e começo a pensar (e sentir) que tudo está melhor... Talvez o café tenha mesmo me renovado o tradicional brilho nos olhos. Quem me ama não merece menos que tê-lo.

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