Coisas Escritas

Coisas Escritas









Com a intenção de não alimentar (ainda mais) um certo pesar que há dias me ronda e que fujo, como foge o padre da beata obcecada, saio para passear com meu livrinho “Breve Compêndio de Coisas Escritas”. Inútil negar que nesse passear quase sereno vejo-me guiado pelo estômago até uma empresa que, palavra, se um dia conhecer pessoalmente os empreendedores meus cumprimentos serão efusivos, pois por R$ 3,90 me servem um nhoque ao sugo “da hora” e, dependendo do dia, ainda é possível cometer a extravagância de degustar um caldo por R$ 2,90. Fala sério brô, sister, com 6 reais você vê a vida passar de barriga cheia e ainda se acha na competência de encarar de frente a melancolia.

Vejamos o que expressa o livrinho:


“Emil Molt (1876-1936), proprietário da fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, fundou a Escola Waldorf Livre em 1919, com o intuito de beneficiar os filhos dos trabalhadores de sua empresa. Molt convidou, para dirigir a escola, um homem com idéias extremamente avançadas para a época, chamado Rudolf Steiner”.

O barato de se publicar uma informação dessas no RL é que o mesmo transborda educadores, assim todos pegam o bonde andando e sabem muito bem quem é (ou foi?) Rudolf Steiner. Todavia, o barato de se publicar qualquer coisa hoje em dia, em qualquer lugar, é que tanto a faz a cultura geral, pois tornou-se um cacoete poderoso acessar a toda hora, inclusive em meio a conversações, um Ipad, IPhone, Tablet, etc.

“A inteligência é identificadora, o raciocínio compatibilizador e a razão unificadora”.

Uau, condução vazia num final tarde entre o sol e a lua.

Quinta passada foi de amargar, das 19 às 21 horas andava-se pela superfície - embaixo estava a Linha Azul - (está ou estava?), paralisada, e o andarilho sentindo-se no “Guerra dos Mundos”, trafegando espremido na Domingos de Moraes com uma multidão cansada, faminta e repleta de adjetivos de baixo calão sobre o vacilante funcionamento do metrô paulistano.

Vejamos o livrinho:

“A princípio a BMW só fazia motores de aviões. Franz Popp começou tudo. Em 1920 ele criou um motor que fazia o avião subir até 9.600 metros. Na Segunda Guerra surgiu o modelo 801, com 14 cilindros e 2.300 cavalos. Desta feita o avião alcançou 11.200 metros. Repare no logo da BMW – uma hélice branca sobre um céu azul. Com o fim da Segunda Guerra os aliados proibiram a fábrica de continuar na toada de motores de aviões. Foi quando começaram a fazer automóveis”.

Estou passeando com meu estômago e meu livrinho, rumo ao nhoque. Digo isto só para constar nos autos. Inda que não pareça uma grande idéia já foi para os autos e, sabe o que dizia Edison? Para se ter uma grande idéia é preciso antes ter muitas idéias.

Falando nisso:

“No início dos anos 20, para se conseguir um emprego nos Laboratórios Edison, era necessário passar por uma prova escrita, que ainda por cima seria supervisionada pelo próprio Thomas Edison. Contendo 286 perguntas, uma delas pedia o diâmetro da Lua, a seguinte indagava quais são os sobretons de um instrumento de corda, a próxima queria saber onde se faz mais sapatos, outra que tipo de madeira se usa nos barris de petróleo”.

No mundo dos escritos tem de tudo, e tanta coisa já foi dita sobre ele que colocar mais uma seria mera repetição. Um grande amigo, outro dia, me mostrou o trabalho musical de um cidadão chamado Sandro Haick. Isso foi escrito agora. Se você gosta de música com M maiúsculo, vai pular do assento caso esteja sentado(a) e agradecer mil vezes o talento desse artista.

Essa não veio do livrinho, mas vale a pena compartilhar: Renomados terapeutas divulgaram uma recente pesquisa onde nota-se que os membros das famílias brasileiras estão cada vez mais frios, não existe mais carinho, não valorizam as qualidades, só se ouvem críticas. As pessoas estão acentuadamente intolerantes e se desgastam valorizando os defeitos dos outros. A ausência de elogios marca sua presença nas famílias de média e alta renda. O resultado é um mar de pessoas fúteis valorizando celebridades.

“Eles sabem o preço de tudo e o valor de nada”. Oscar Wilde. Uau, escritores, esses caras tornam a escrita algo além das palavras.

Dados frescos atestam a existência de 71 milhões de indigentes na América Latina. Isso está escrito e do meu trajeto até o nhoque é possível ver uma parte deles. Seu estado é tão lamentável que a cifra 71 milhões ganha um sentido diverso da representação numérica.

Estamos chegando, não apenas na refeição como num dos poucos acordos salutares onde paga-se com prazer na certeza de que a outra parte recebe igualmente com prazer. Nem tudo funciona assim.

Relata o livrinho, detentor de um pouco de tudo, a necessidade de se ler “Poder versus Força” (Power versus Force), de David Hawkins, que descreve como sua técnica de cinesiologia mediu a vibração da população mundial. Como é que se escreve a respeito de uma vibração?

Shakespeare deu uma boa dica sobre um dos aspectos da vibe: os covardes morrem muitas vezes antes de morrer.

A despeito da enormidade de eventos acontecendo neste dia, parte deles escritos, urge lembrar sempre que histórias antigas somente continuam a definir situações pessoais se houver anuência para isso.

Coisas escritas devem permitir que seu espírito voe.



(Imagem: Vida Gábor)



 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 06/09/2012
Reeditado em 24/06/2021
Código do texto: T3868561
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.