Naquela estação

Já era vinte e uma horas quando Paulinho descia do jantar na estação das Docas. Olhando ao fundo, através das grades de vidro o rio em sintonia com a lua e as palmeiras, que dançavam o Ravel sem qualquer descomposturas.

A noite criança, bastante formosa ouvia das ondas, que se impunham nos arrimos daquele lugar o hálito de menina. Em silêncio, a essência das horas chamou o rapaz para de perto apreciar o contraste do rio com a cidade.

Assentado sob a palmeira, que fazia frente a uma imensa desempilhadeira de ferro, o rapaz, em estilo simples se deparou com uma morena linda, bem apresentada, que estava assentada nos assentos de esperas do terminal das docas, como a esperar por uma viagem. Com o coração totalmente vazio, de repente ele sentiu um frio, uma vontade de dizer algo aquela moça, que ali parecia solitária.

Em vermelho tom dominante da roupa ela se mostrava autoritária, ao mesmo que a candura do rosto angelical pregava a sensualidade inocente de uma moça desprotegida.

No auge do avançar das horas, Paulinho, tomado de emoção se aproximou e perguntou se ela estava sozinha. Sob um tom de silêncio e outro enigmático ela respondeu que sim, oscilando a cabeça com o rosto armado num longo sorriso alegre. Por um segundo a pausa foi a grande voz, mas o rapaz criou forças e disse a moça, que admirava a sua beleza exótica.

Entusiasmado com a permissão da moça, a troca de gentilezas foi-se no ar polido da baia do Guajará, tomaram sorvete feito adolescentes, sorriram de nada até que um vendedor de flores adornou a lembrança da moça ao oferecer uma de suas rosas com a permissão do todo encantado rapaz.

Um boto e uma índia se encontravam a beira do rio, conversaram até sugerir o primeiro beijo. De beijo em beijo, mais profundo que nunca se viu, ela bem postada, o afastou e disse:

Baby, antes que você me peça pra namorar, quero te dizer que sou garota de programa.

Como se um raio seco, sem qualquer menção de chuva no ar lhe atingisse a alma Paulinho f icou mudo. Levantou-se devagar da mesa e sem perder a educação disse:

- Moça, me desculpe, mas eu sou cidadão. E saiu pelo portão afora, sem ao menos dizer boa noite.

Sem palavras a moça apertou o seu decote no casaco vermelho, ajeitou a sua saia curta, preparou os lábios carnudos com o batom e seguiu para os assentos daquela Estação.