SÃO LUIS QUATROCENTÃO

São Luís lembra Lisboa. Esta é  a primeira impressão que a capital maranhense dá a seus visitantes. Ruas estreitas, com ladeiras, escadarias, sobrados seculares, portas e janelas, e os inconfundíveis azulejos coloniais.

Este cenário resistiu ao tempo, preservado no centro histórico tombado como patrimônio cultural da humanidade, área onde se concentram os turistas, nos bares, restaurantes e cafés, bem à moda lisboeta, mas nas vielas da “Ilha do Amor”.

Há os teatros ali. O Arthur Azevedo é o mais tradicional. As igrejas em arquitetura barroca, numa das quais o Padre Antônio Vieira proferiu o Sermão da Primeira Domingada da Quaresma ou das Tentações, em 1653, e o Sermão de Santo Antônio ou Aos Peixes, em 1654. A Academia Maranhense de Letras, a Biblioteca Municipal, o Liceu Maranhense e, à beira mar, o Palácio dos Leões. Tudo parece Portugal, tudo lembra Lisboa, embora São Luís seja a única capital do Brasil colônia, não fundada por portugueses, mas por franceses. Esse detalhe, porém, não a impediu de herdar tudo que por direito e tradição se vê na cidade. Cada bairro, cada rua ou casarão tem uma história. Não é Alfama, mas também cheira a saudade.

 
Subir ou descer aquelas ladeiras é como andar pelas vielas de Lisboa, nos bairros de Alfama ou Mouraria, mas vem a “tropical melancolia”, mais viva e encantadora na sua mulatice. Os portugueses e franceses cruzaram com africanas e disso é que surgiu a nova raça, de que se apropriou a língua mãe no seu melhor estilo. Maranhense flexiona bem as palavras, dá ao coloquial um toque de fino trato à intimidade com o uso da segunda pessoa do singular. “Tu vens almoçar comigo?” “Fostes ontem à praia?” Ao consultar sobre o preço de um eletrodoméstico o vendedor prontamente respondeu-me: “quinhentos”. (Jamais diria "quientos" ). Cada vez que transito pelas ruas de São Luís vem-me à lembrança o cenário descrito por Aluísio Azevedo, um dos seus mais ilustres filhos, no romance O Mulato. (Recomendável como uma das mais belas e perfeitas descrições dentro da ficção naturalista em língua portuguesa).

A São Luís de agora tem novos encantos. Convive com duas realidades: o passado imorredouro, retratado em sua arquitetura colonial, e o presente mostrando o que o progresso trouxe na face da modernidade.

 
A capital maranhense chegou aos seus 400 anos com muito júbilo. Berço de riquíssima tradição em que se destaca o folclore, a literatura faz jus ao slogan: ”Maranhão, que terra boa, onde o poeta nasceu”. Isto vem desde Gonçalves Dias, Arthur Azevedo, Aluísio Azevedo, Humberto de Campos, até os modernistas Ferreira Gullar e Sousândrade.

Parabéns São Luís. Parabéns aos que nascem, vivem e visitam a “Ilha do Amor”. Creio que outro título não a definiria tanto. Nem um fado nem um samba. Mas eu digo que tu, São Luís, és lusitanamente bela e brasileiramente linda.


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Ouça e veja a maranhense Alcione cantando Jamaica a São Luis
http://www.youtube.com/watch?v=GvLVOcB-_Wo





LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 10/09/2012
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T3875072
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