A professorinha de português

Ah, as professoras de português... Um perfil único, um fenótipo intelectual e atraente, quase sempre. Todo aluno sabe do que falo. Há um consenso entre nós, homens, que foram alunos destas professoras, as de língua portuguesa, aquelas que antigamente, falo da época de meu pai, entravam em sala vestindo uma saia na altura dos joelhos, salto alto e seus óculos. Bem, os óculos poderiam ser o crachá da professora de português intelectual.

Tenho algumas lembranças ainda não esquecidas e esquisitas da minha infância. Lembro-me que eu fazia 5ª série, era um moleque um tanto popular, acabara de mudar de escola e mesmo assim me tornei conhecido lá. Não me perguntem por qual motivo eu era conhecido, já que eu não era rico, não era um Einstein e tampouco um galã! Eu era um bom aluno, tímido e que as pessoas gostavam de apertar as bochechas (isso me irritava na época).

No primeiro dia de aula, acho que do ano de 1999, cheguei na nova escola. Já conhecia algumas figuras, pois estas moravam no mesmo bairro que eu, e pra um garoto da 5ª série é inevitável jogar bola com os colegas do bairro, o famoso "racha". Nunca entendia o porquê da denominação "racha", passei a entender, uns anos depois, quando racharam a canela do Betinho num lance bem casual, no qual o adversário "voou" com as duas pernas em seus membros inferiores! Mas sou capaz de afirmar que ele apenas visou a bola! Enquanto o Betinho chorava, o coro gritava: "Futebol é pra homem, seu mariquinha! Vai lá chamar a mamãezinha"! Era quase um Coliseu romano! Voltando à escola... Fui bem recebido pelos novos colegas, os garotos logo me encaixaram no time da sala e as meninas... Bem, as meninas só queriam os garotos mais velhos! Entrei na sala, me sentei e fiquei aguardando a aula começar. Enquanto isso, me virei pra trás e comecei a conversar com o Fernandinho. Fernandinho era o único aluno da 5ª série que tinha idade e malícia pra estar na faculdade. Ah, ele também era o único a ter barba. No meio do papo com meu colega senti umas batidinhas nas costas e um silenciar da turma. Virei-me e me deparei com a tal professorinha de português da 5ª série e que usava óculos! Eu já era tímido e bochechudo, imaginem como estas ficaram vermelhas! A professora disse:

- Como é seu nome, filho?

Eu respondi trêmulo e com o músculo esfíncter capaz de cortar um charuto:

- Pedro, professora. Sou novo na escola.

Fernandinho me soprou baixinho:

Tu se lascou, bicho! Ela é o cão!

Isso me tranquilizou bastante! Agora eu já sabia que estava no inferno! Mas eu comecei a pensar como seria possível ela ser o próprio demônio e tão bonita ao mesmo tempo? Achei estranho. E ela ia contra todas as possibilidades das professoras de português. Naquela época as professoras de língua portuguesa ou eram feias e gordas ou velhas, feias e gordas! Ela era linda e jovem e ainda usava óculos. O fato é que eu tinha começado mal e ela iria me punir. Ela disse em meio a sala de aula, enquanto todos faziam um silêncio de final de guerra:

- Mocinho, você vai ter uma chance. Se acertar será absolvido!

Eu não tinha outra escolha. Não neste caso. Balancei a cabeça aceitando o que eu ainda nem sabia.

- Dê-me um exemplo de uma figura de linguagem?

Ouvi só umas vozes lá no fundo da sala:

- Lascou-se! Game over! Chama a tua mãe!

Escutei tudo que me fazia lembrar o Coliseu onde a gente jogava bola! Tive que me manter calmo pra não fazer feio frente a professorinha de português! Então eu disse:

- Professora, perdoe minha ousadia, mas a senhora é tão bonita que não pude pensar em outra coisa pare lhe dizer que não fosse que a senhora é a personificação da beleza!

A professora sorriu, virou as costas e disse: "Abram o livro na página 07, hoje começaremos a estudar Poesia!

Pedro Hermes
Enviado por Pedro Hermes em 10/09/2012
Código do texto: T3875403
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