Errar é humano?

Certas questões cotidianas me intrigam. Estes dias, estive pensando sobre o rumo de nosso País. Relembrando as situações de assaltos, agressões físicas, corrupção, entre outros acontecimentos, comecei a questionar a seguinte frase: "Errar é humano!" Pensei: "Será que, realmente, errar é humano?" E de tanto refletir, encontrei um sério problema nesta afirmação.

Pelo que tenho visto na sociedade brasileira, o ser humano tem se apegado muito facilmente a esta expressão, como se a mesma fosse natural a cada indivíduo. Tomando um caminho inverso, venho argumentar que tal afirmação está equivocada. Digo isso, por perceber que errar é tão humano quanto acertar, e, além do mais, errar não é privilégio só dos humanos, mas também dos demais animais, embora, até onde a ciência saiba, somente os humanos atribuem sentido ao "erro". E aqui deixo a primeira questão: se considerarmos que o "acertar, também, é humano!", por que nos nivelamos pelo "errar"?

Seguindo na reflexão, sugiro que nossa popular afirmação seja substituída pela seguinte: "O ser humano está sujeito ao erro!"; assim como, também, está sujeito ao acerto. Mas por que me preocupo tanto em querer modificar aquela expressão? Me preocupo porque vejo nela um imenso conformismo, que muitas vezes conforta pessoas que deveriam ficar inconformadas por ter agido de determinada maneira.

Penso que se continuarmos atribuindo o valor de verdade àquela frase popular, seguiremos abrindo caminhos para que as pessoas possam cometer inumeráveis e repetitivos erros, sob o pretexto de "serem humanas". Porém, quando dizemos que o "ser humano está sujeito ao erro", atribuímos uma certa responsabilidade sobre este "ser", o qual terá algum poder para optar sobre a decisão que irá escolher em sua respectiva ação, sabendo que nada está determinado e que, não necessariamente, tenha que errar; visto que o "erro" não passa de um significado atribuído a algum fato a partir do momento em que o resultado do mesmo não está de acordo com aquilo que tinha sido planejado.

Concluindo este artigo, digo que meu posicionamento não se mostra em defesa do perfeccionismo humano, mas parte do sentido de que do mesmo modo em que cada pessoa pode errar, ela pode também acertar. Lanço, aqui, a problematização e convido a cada um para que possa pensar pelo viés de que o erro não é algo inevitável ao ser humano, mas sempre uma possibilidade (mesmo que muitas vezes ocorrida), e sendo ela uma possibilidade, nada está definido! Desta forma, ao modificarmos a expressão e substituir o "...é..." pelo "...está sujeito..." modificamos não somente o sentido, como também o compromisso político que é possível de se atribuir a tal afirmação.

*Publicado originalmente no site do Jornal Agora (Rio Grande/RS) <http://edicoesanteriores.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=27&noticia=85556>. Data: 19 ago. 2010.