Pedro e eu

Ao entrar, cheia de preocupações e tristezas em um ônibus do bairro onde mora minha família, que eu fui visitar como fazia todas as manhãs, percebi uma movimentação meio complicada atrás de mim. Acomodei-me no primeiro banco duplo e logo depois de mim, veio aos trambolhões, uma jovem senhora, morena, com uma enorme trouxa, panos, sacolas e um bebê vindo assentar-se num pequeno banco virado de lado, logo à minha frente. Ao perceber que ela nunca se ajeitava, nem podia, com o menino e mais toda aquela parafernália que trazia, me adiantei e ofereci para carregá-lo, o que ela aceitou meio relutante, entre desconfiada e desesperada com a situação.Coloquei o bebê deitado com a cabeça no meu braço esquerdo e perguntei a ela o nome dele. - É Pedro... e então eu exclamei: - Pedro, que lindo! E ela encerrou o pretenso diálogo com um solene... -Sim senhora. Comecei a observá-lo e ele me encarava seriamente, como se quisesse fotografar a minha fisionomia em sua mente. Calculei uns cinco meses mais ou menos e aí, ele me sorriu largamente, um sorriso lindo, assim... meio banguelo, meio de lado, meio encabulado, transparecendo toda a inocência que Deus poderia envolver um ser humano que deixa as asinhas num canto e desce cá para a terra. Então, olhando nos olhos dele comecei a lhe enviar o seguinte: - Pedro... assim você só poderá ser muito feliz, pois sua simpatia é de se admirar; peço a Deus que você nunca sofra com as agruras da vida e que ela transcorra serena, fazendo seu caminho bem florido; se houver "pedras", que você saiba contorná-las sem se machucar. E ele, com um olhar infinitamente negro, pareceu entender e sorria mais e mais. Estabelecemos aquela conversação emocionada através do olhar e eu fiquei pensando que talvez nunca mais o visse, afinal...nunca os vira antes! De qualquer forma, eu já gostava muito dele e desejava que Deus iluminasse seu caminho assim como ele iluminou minha alma com seu sorriso. Quem sabe, ele foi mandado para o meu colo para me fazer refletir sobre a vida, ou para limpar com sua pureza o meu caminho e amenizar meus temores e tristezas? Chegou a minha vez de descer e eu o entreguei à mãe, que me sorriu agradecida e desci feliz e mais aliviada do que quando entrei no ônibus. Já se vão alguns anos e eu nunca mais os vi; sei também, que fora uma intervenção Divina, eu jamais os reconhecerei, se passar por eles. Agradeço sempre a Deus por aquele breve espaço de tempo que abrandou a minha alma conturbada. Estava mesmo precisando de paz. Adeus Pedro; jamais me esquecerei do seu lindo olhar e sei que é sonho, mas quem sabe um dia passo por vocês e sua mãe me reconhece? Peço a Deus que seja somente para confirmar que você é feliz e continua a revelar a paz de Deus com seu sorriso. Celeste 21/11/89
Pássaro Feliz
Enviado por Pássaro Feliz em 20/02/2007
Reeditado em 01/05/2008
Código do texto: T387672
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