SABER ENVELHECER - UMA ARTE

 
Envelhecer é inerente a quem não morre cedo. Alguém já disse isso. E nunca se falou tanto em envelhecimento como nos tempos atuais. Talvez por influência da internet. Antigamente, quando alguém enveredava por uma quantidade de anos vividos relativamente grande, dizia-se que a pessoa era idosa, evitando-se o uso da palavra velho. Hoje, alguns “iluminados com vela” inventaram diversos termos ridículos para designar essa mesma pessoa. Destaco os dois mais conhecidos: terceira idade e melhor idade. Como já disse Ruy Castro: melhor idade é a p... que o pariu!!! 
 
O envelhecimento já foi (e continua sendo) objeto de estudo de muitos filósofos ao longo do tempo. Marco Túlio Cícero, filósofo, orador, escritor, advogado e político romano, nascido em 106 a.C., foi um deles. Ele escreveu um dos melhores livros sobre o assunto, chamado A Arte do Envelhecimento, editado no Brasil pela Martins Fontes. Ler as palavras de Cícero sobre envelhecimento pode ajudar a aceitar melhor a passagem do tempo e até a própria morte. Diz ele: “Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia (grosseria, mau humor), o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”.
 
Permanecer intelectualmente ativo é uma forte recomendação de Cícero: “A memória declina se não a cultivarmos ou se carecemos de vivacidade de espírito”, disse. Ele lembra que Sócrates, já no fim da vida, aprendeu a tocar lira e Catão, na velhice, descobriu a literatura grega. Para citar um caso brasileiro, Machado de Assis aprendeu alemão também na velhice, que, segundo os críticos, foi o idioma em que ele escreveu seus melhores romances. Cícero nota, primeiramente, que todas as idades possuem seus encantos e suas dificuldades. “Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias, por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo”. E depois aponta para um grande paradoxo da humanidade, que considero uma observação sensacional. Todos sonhamos ter uma vida longa, o que significa viver muitos anos. Quando realizamos a meta, em vez de celebrar o feito, nos atiramos a um estado de melancolia e amargura, dignos de dó. Verdadeira e perigosa depressão.
 
Sem dúvida, Cícero foi uma das mentes mais versáteis da Roma antiga. Então, antes de pensar em aplicar qualquer botox, leia Cícero. Vale muito mais a pena, além de ser mais barato, inspirador e cultural.
 
Encerro com a seguinte afirmação: Aceitar a velhice e saber conviver com ela é uma arte.


 
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