Jamais Serei Genial e Famoso...

Jamais Serei Genial e Famoso

( Ao menos não nesta vida )

Jorge Linhaça

Cheguei a esta conclusão examinando os pontos em comum nas biografias dos "gênios famosos" ou dos "famosos geniais", das artes e da literatura como queiram.

Independente de sexo ou nacionalidade, parece que a genialidade desses indivíduos, elevados a celebridades acaba sempre atrelada aos comportamentos auto-destrutivos ou à exploração de temáticas scque tornam o ser humano escravo de seus mais animalescos instintos.

Na música atual isso se torna cada vez mais patente nas letras de "hits" de vários gêneros populares. O sexo irresponsável e o consumo de bebidas são amplamente estimulados ( não haveria pois a necessidade da industria de bebidas investir tanto em propaganda, os artistas já se encarregam de estimular a juventude a ingressar na senda etílica, o que resta não é criar um mercado consumidor para a bebida, resta apenas a guerra das marcas).

Não sei se tais artistas são inocentes úteis ou se conscientemente fazem parte dessa perversa engrenagem que moi consciências, alicia incautos e aliena completamente multidões.

As drogas, de uma maneira geral , fazem parte constante do universo dos artistas e criadores. Chega-se a ter a impressão de que a genialidade só pode ser obtida com o uso de tais muletas artificiais "capazes de aumentar a percepção e libertar a mente".

Outros há que associam o sucesso das produções literárias à boemia e ao mergulho na margem da sociedade.

Não creio que o talento esteja diretamente ligado a estes fatores, no entanto a imagem criada é deveras forte e perpetuada pelas biografias que se ousem escrever.

Como não sou dado a bebedeiras, uso de drogas ou orgias parece-me bastante

improvável, senão impossível, que atinja os píncaros do reconhecimento pela minha produção literária.

Numa sociedade onde uma Bruna Surfistinha escreve suas memórias e o livros torna-se um best-seller de imediato ( assim como outros semelhantes), parece ser bastante escasso o nicho de mercado capaz de consumir obras que busquem a elevação do ser humano.

Sorte, oportunidade, pistolões, padrinhos...nada disso deveria ser capaz de fazer com que a falta de talento e de sobriedade se sobrepusesse ao talento e ao compromisso de quem leva a sério o seu mister.

A realidade no entanto é outra...a mídia ( direta e indiretamente) investe pesado no que possa dar um retorno imediato em termos financeiros, sem importar-se com o custo cidadania de seus investimentos.

A perversidade dessa inversão de valores é tamanha que preenche o horário nobre a TV com folhetins cada vez mais apelativos, onde tudo é lícito em nome da busca da audiência. A pretensa temática social envolvida em algumas tramas, fica lá soterrada sob toneladas de adultérios, pegação, vingança, bebedeiras e etc.

Há de ser ter em conta que as camadas mais populares da população, devidamente emburrecida por um sistema educacional falido, tem ao longo do tempo encontrado o seu "espaço de lazer" diante das telinhas da TV ( hoje já não tão telinhas) e absorvido qual uma esponja, o comportamento dos personagens que por ali desfilam.

Não é pois de se estranhar que a sociedade tolere cada vez os desvios de conduta de seus integrantes, glamourizados em filmes novelas e mini-séries.

Não é pois de se estranhar que o consumo de bebidas cresça exponencialmente conforme as músicas o tornam parte dos atos heróicos de seus protagonistas e mesmo o fator responsável pelo sucesso com o sexo oposto.

A massacrante repetição dos refrões das músicas incitam cada vez mais à libertinagem e comportamentos irresponsáveis e perigosos.

As doenças sexuamente transmissíveis ( inclusive a "esquecida" AIDS) não fazem parte da preocupação de quem "sai pra balada pra beijar na boca".

A gravidez indesejada e os estupros ( tanto os denunciados como aqueles recolhidos à vergonha das agredidas) proliferam como pragas sociais.

Sobre a AIDs poderia-se escrever um capítulo à parte, já que a quase inexistente informação sobre o assunto fez com que seu perigo caísse no esquecimento dando a ilusão de que os tais coqueteis extinguiram a doença.

A gravidez indesejada gera o alimento para a indústria do aborto ilegal, ou da destruição de sonhos de uma vida mais estruturada.

Enfim, voltando ao mote principal do texto, por certo serei lembrado por um número bem restrito de leitores cujas preocupações sejam semelhantes às minhas e , talvez por mais alguns que hão de taxar-me de louco idealista ou reacionário ou, quem sabe, de falso moralista.

Minha biografia não terá graça ou apelo comercial, portanto não escreverão sobre mim mais que exíguas linhas.

Esta é a realidade de grande parte dos autores brasileiros que não cedem à pressão do escrever o que agrade à maioria.

Salvador, 16 de setembro de 2012.

Contatos com o autor:

anjo.loyro@gmail.com