Magma não. Magna, Magda!

Em outubro de 2006, iniciou-se o segundo semestre letivo da Universidade Federal de Roraima (UFRR). No dia 21, realizou-se a Aula Magna no auditório da Instituição, O reitor Roberto Ramos, pró-reitores, boa parte do corpo docente e alguns estudantes compareceram ao evento marcado para as 16h, mas que teve seu início retardado em 45 minutos.

Lá fora, vestida em minúscula saia jeans de cintura baixíssima e insinuante camiseta de cintura altíssima, uma mocinha interpelou um veterano:

- Tio, o senhor pode me dizer o que diabo é aula magma?

O aluno mais antigo irritou-se.

Não. Não se irritou por ser chamado de tio. Irritou-se com a ignorância dos estudantes universitários deste país “abençoado por Deus e bonito por natureza”. Note-se que a mocinha vive em meio privilegiado, é egressa de escola particular de renome e foi bem classificada no vestibular da UFRR. O “tio” teve vontade de responder-lhe:

- É o seguinte: o reitor e os pró-reitores dedicam-se à sismologia. Eles vêm de uma recente viagem a Java e a outras ilhas indonésias. Lá, eles coletaram matérias vulcânicas principalmente de Krakatoa - aquele vulcão que, no final do século XIX, entrou em violenta erupção. Os mestres crêem e procuram suporte científico para afirmar que a Serra Grande, em Roraima, é um vulcão adormecido, mas que pode acordar a qualquer momento. Eu, particularmente, concordo com eles e penso que nós, roraimenses, corremos sério risco de virar pedra ou desaparecer como quase toda espécie de vida que existia naquela ilha.

Conteve a indignação, no entanto, e explicou:

- Não é aula magma; é aula magna. E, segundo os dicionários, aula magna é o mesmo que aula inaugural; a primeira aula de um curso. Não sei porquê, mas no calendário da UFRR, a aula magna estava agendada para o dia 16 (sete dias após a retomada das aulas) e, de fato, foi ministrada no dia 21 (doze dias após o início do semestre). Nesta aula – continuou - vêem-se coisas que até Deus duvida. Vê-se, por exemplo, um professor afixando ao pé da escada um cartaz que diz “CUIDADO COM O DEGRAU DA ESCADA”. Nela ouvem-se mestres afirmando “não ter obrigação de pronunciar corretamente o inglês, pois sua língua é a portuguesa” (Pergunto: por que, então não se ater a verbetes desta língua e mostrar “islaides” legendados segundo o idioma de Camões?). Aula magna, enfim – concluiu é aquela que dispensa os alunos das outras aulas para não irem a aula alguma. Me diz uma coisa: seu nome, por acaso, é Magda?

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 22/02/2007
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