LIBERTINAGEM.
Quando menina, no Vilarejo em que morava, andava-se muito para chegar
ao comércio. Eu, era a favorita da família para fazer tal percurso
haja vista que adorava andar olhando a paisagem( até hoje, adoro) e
como o trajeto era de uma natureza exuberante onde as mangueiras eram
em quantidades impressionantes, eu cortava caminho por um grande sítio
cujo dono resolvera deixar uma passagem aos moradores. Senhor Deodoro
era o administrador do sítio e amigo de meus pais e , sempre, guardava
umas deliciosas mangas para mim além de outras frutas.
Até aí tudo bem, Atravessar o sítio era um encantamento até que um dia
vi algo que me deixou curiosa. Sob uma mangueira - sentados num banco
- vi um casal se beijando. Sabe aquele beijo da novela das nove? Um
pouco mais ardente. Nada comum para a época.
Quando cheguei em casa comentei com minha Vó Laura e ela me respondeu
- Para de fantasiar as coisas, menina. O dono daquele sítio jamais
permitiria uma libertinagem nas terras dele e Seu Deodoro é um
administrador competente e de olho em tudo.
Naquele tempo, beijo das novelas das nove, era libertinagem, hoje é
incentivo para todas as faixas etárias. Bem isso é tema para outro
texto.
Voltemos ao sítio.
Continuei passando pelo sítio e por um bom tempo não vi o tal casal.
Já tinha me esquecido do acontecido quando certo dia encontro um homem
forte, bem arrumado e perfumado ( cheiro forte) indo de encontro a uma
mulher loura que o esperava no mesmo banco. Menina curiosa fiquei
espreitando atrás de uma bananeira e vi o atracamento deles ou a
libertinagem como dizia minha Vó.
Dessa vez fiquei de boca fechada por uns dias. A curiosidade me
consumia, eu queria saber quem era a tal mulher, porque o homem eu já
tinha visto de "relance".
Comentei o acontecido com uma prima mais velha e ela me disse - devem
ser amantes e estão se encontrando aqui no Vilarejo na parte da manhã
para não levantar suspeitas. Não deve ser ninguém conhecido. É, não
deveria ser mesmo.
Numa Segunda -feira - lembro como se fosse agora - eu estava de
vestido vermelho e ataravessava o sítio quando uma vaca ou touro, sei
lá, começou a correr atrás de mim. Eu corri bastante e pulei a cerca
que dava acesso à parte proibida aos pedestres e nem percebi minhas
canelas arranhadas e meus joelhos sangrando. Sem fôlego cheguei perto
, já imaginaram de quem?
- Isso mesmo! Do tal casaL que ao me virem naquele estado ficou
desorientado e a mulher ao me socorrer deixou a peruca cair. Se
tivesse a idade que tenho hoje desmaiaria de surpresa.
Perdi a voz, devo ter esbugalhado meus olhinhos...ela era o Senhor Deodoro!
Contei somente para a minha Vó que me respondeu - Para de fantasiar,
menina! Venha colocar arnica nesse machucado e não se fala mais nisso,
ouviu?!