Descaso na infância x Adolescente infrator

 
Um tempo atrás deu no noticiário local que uma adolescente havia agredido fisicamente sua professora de biologia por motivos banais. A professora ficou muito machucada e a jovem foi encaminhada ao Conselho Tutelar. Passei dias e dias ouvindo xingamentos e acusações contra a adolescente e algumas sugestões para a mudança no Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente e outros que diziam que certas atitudes de alguns jovens ocorriam por falta de medidas mais drásticas. Até concordo que há muitos artigos e   itens que precisam ser mudados no ECA, artigos estes que fogem da realidade do nosso país. Mas sempre que acontece algo parecido envolvendo a deliquencia juvenil, me pergunto se a causa não está na base familiar. E isso me faz lembrar casos como o que vou narrar a seguir:

Ana Zilda era diretora de uma pequena creche municipal, onde o espaço e a logística não tinha como atender a grande clientela; mães desesperadas para encontrar um cantinho que pudessem guardar seus filhos em total segurança enquanto estivessem trabalhando. E não só segurança, mas que oferecesse também o carinho, paciência e ternura de mãe.
Contou-me Ana Zilda que numa bela quinta-feira, quando já se encontrava em casa o telefone tocou. Era exatamente 19h48min. No momento em que atendeu reconheceu a voz do vigilante da creche lhe saudando com uma boa noite. Ela logo pensou: Roubo na creche! – Mas não era. O vigia estava ligando para saber o que faria com uma garotinha que até aquele momento se encontrava na creche e não havia aparecido ninguém dos familiares da menina para levá-la para casa.
Ana Zilda pediu calma e lhe disse que iria até a creche para localizar o endereço da criança. Pegou o carro e se dirigiu as pressas, numa velocidade que não feria o código de transito da cidade e que também não atrapalhasse o seu raciocínio, e durante o caminho decidiu que pregaria uma peça nos pais da menina.
Logo que chegou foi checando os arquivos e localizando a pasta com a identificação da criança. Anotou o endereço e falou para o vigilante que se caso ainda aparecesse alguém a procurá-la que  informassese que a menina se encontraria em sua residencia.
Ana Zilda pegou a menininha pela mão perguntando se estava bem. Ela disse que estava com fome. Era uma linda garotinha e parecia estar tranqüila diante daquela situação. Chegando a casa, deu-lhe um belo banho, preparou-lhe uma refeição e a colocou para dormir e ficou aguardando a mãe desnaturada chegar para pegar a filha. As horas passaram, o sono chegou e ninguém apareceu.
Na manhã seguinte, depois de tomar o café da manhã, pegou o endereço da criança e resolveu entregá-la pessoalmente para a mãe. Chegando lá, bateu palmas em frente da casa e logo uma moça de uns 30 anos apareceu, o rosto ainda meio sonolento e com aquela cara de quem ainda queria voltar para a cama.

- Bom dia senhora! – Ana Zilda cumprimentou
- Bom dia – ela respondeu.

Ana Zilda tinha deixado a garotinha ainda dentro do carro e se dirigiu até o mesmo, pegando a criança pela mão perguntou à moça:

- Esta criança é sua filha?

Ela olhando espantada para a menina logo respondeu:

-É sim, o que ela está fazendo com a senhora?

E Ana Zilda respondeu:

- Moça, ninguém foi pegar a sua filha ontem na creche e ela dormiu na minha casa...

- MEU DEUS, ESTA MENINA NÃO DORMIU EM CASA?

Ana Zilda ficou sabendo depois que aquela mãe nem sequer trabalhava.


 
Sempre me pergunto como teria sido a adolescência daquela menina, diante do descaso ainda no âmbito familiar. Penso que as pessoas não nascem delinqüentes e que algo ou algum fato aconteceu no decorrer de algumas vidas que a transformaram em pessoas à margem do bom convívio social.
MarySSantos
Enviado por MarySSantos em 01/10/2012
Reeditado em 01/10/2012
Código do texto: T3910769
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