Muita calma nesta hora

Muita Calma Nesta Hora

Jorge Linhaça

A carência que o povo tem de mitos e super heróis demonstra a parca autoestima que desenvolvemos ( ou não desenvolvemos ) ao longo dos tempos.Além disso, desde a antiguidade a figura dos heróis tem sido utilizada como exemplos do comportamento desejável de cada cidadão.

O grande problema é que, quando os heróis estão vivos e ainda mais em uma época em que a informação voa à velocidade de um simples "clic" heróis são construídos e descontruídos com a mesma agilidade.

Com o passar dos tempos heróis populares mudam seu comportamento e metamorfoseiam-se em vilões, apenas e tão somente por serem humanos ou por não atenderem às expectativas deste ou daquele grupo.

Só para citar a história recente tivemos os heróis das " Diretas Já", Os heróis do Plano Real, os heróis operários que ascenderam ao poder...

Todos cosntruidos pelo imaginário popular e desconstruídos pelo desencanto da população por haverem se tornado mais do mesmo que sempre houve por aí.

Hoje, em tempos de mensalão, Joaquim Barbosa tem sido quase que endeusado pela mídia e pelas redes sociais como o mais novo "vingador" da população brasileira, cansada e exaurida de tantos descalabros , negociatas e corrupção ao longo dos anos.

O fato de Barbosa ser negro, tem sido usado como um elemento a mais para representá-lo como a "voz dos oprimidos" no STF.

Rótulo ao qual o ministro, diga-se de passagem, tem ogeriza, pois não aceita o complexo de coitadinho e a acomodação da população.

Barbosa parece ter ralado muito para chegar onde chegou, enfrentando dificuldades comuns a muitos brasileiros, mas chegou lá por seu próprio esforço, nada mais natural do que ele acredite que os outros devem fazer o mesmo. Por isso o seu discurso contra o estabelecimento de cotas para estudantes.Esteja certo ou errado nesse parecer, o certo é que é coerente com suas idéias.

Barbosa tem desempenhado o seu papel de relator de acordo com o que julga justo e correto, no entanto há de se entender que ninguém é imune à vaidade, mormente quando o caso assume proporções tão grandiosas quanto este julgamento.

Barbosa que já era conhecido como de não mui fácil convivência entre seus pares, desde outros tempos protagonizando embates acalorados no STF, parece ter aceitado essa aura de super herói vingador e, embora não haja dúvidas de seu vasto conhecimento jurídico, parece estar um tanto "embriagado" com o mel dos constantes elogios populares.

Há que se ter em mente que, embora a população deseje punições exemplares para todos os suspeitos, o papel da justiça é justamente evitar que a vingança sobreponha-se às leis.

O que passa desapercebido à população em geral, sempre guiada pelos

formadores de opinião, é que, Barbosa não é capaz de condenar ninguém sozinho.São necessários ao menos seis votos do STF para que se aceitem as denúncias e acusações feitas aos réus.

Não estou desmerecendo o papel de Barbosa, no entanto ele tem sido supervalorizado pela população em geral que procuram dar a impressão de que é o único responsável pelo julgamento. Fosse o STF cooptado como sempre insunuam alguns e Joaquim Barbosa poderia espernear que, mesmo assim, a maioria dos demais votariam contra suas conclusões e não haveriam condenações.

A dúvida que tenho é se o STF julgará com o mesmo empenho o mensalão de Minas Geraa, embrião do agora julgado e que envolve Marcos Valério com outro partido bem como desengavetará escândalos ainda maiores que o atual quando se trata de desvio ou dilapidação do dinheiro e patrimônios públicos.

O mesmo Joaquim Barbosa, na época dos fatos, aceitou o desmembramento do julgamento alegando que apenas um dos envolvidos tinha direito a foro privilegiado.Embora mais antigo que o processo atual, nada foi apurado ou julgado desde então.

Se é para passar o Brasil à Limpo, vamos passar sem escolher partidos,

afinal, lugar de corrupto é na cadeia, seja ele de que partido for.

Só espero que existam verbas suficientes para construir tantas celas senão vão todos eles ficar em prisão domiciliar em suas confortáveis mansões.

Quanto ao Barbosa, que continue o bom trabalho, não como um herói tupiniquim, mas como jurista e pessoa íntegra que demonstra ser:Defensora de seus valores e da justiça, até aqui, sem aparente dolo.

Que esta necessária apuração de responsabilidades no mensalão não sirva apenas como um "cala boca" na grita geral da sociedade à procura de bodes expiatórios, antes que seja apenas a primeira de muitas ações semelhantes, doa em quem doer.Afinal não adianta limpar a sala de visitas e deixar a imundície tomar conta dos outros cômodos.

Quem dera que os Judiciários estaduais seguissem o exemplo do STF..

Em tempo, Barbosa é negro, afrodescendente,mas isso não o torna pior ou melhor que ninguém, é o seu caráter o que realmente importa.

Até aqui não há porque duvidar de sua integridade.Que permaneça assim.

Salvador, 03/12/2012