AQUELE MENINO

Aquele menino lá longe tem sempre lições para me ensinar. Eu aprendo quando converso com ele, quando leio o que escreve, e na forma como escolheu viver. Eu sempre fui um covarde. Nunca tive coragem para ir além do que esperavam de mim. Sempre fui modelo para outros da família e acabei anulando os meus desejos.

Então quando de repente vejo um menino, quase com idade para ser meu neto, dando-me conselhos e falando da sua vida, de uma forma tão madura, tão brilhante fico emocionado.

Aquele menino tem uma alma de gente madura. A primeira e única vez que nos vimos e falamos pessoalmente foi há dois anos e eu me senti seu filho. Papéis inversos em almas tão antigas. Eu vivendo minha experiência humana, sem qualquer brilho inexperiente. Ele, maduro num corpo de menino. Foi uma situação tão surreal que eu fiquei tímido quando conversávamos e queria aproveitar suas palavras sábias para aprender.

Tomamos um café na Avenida Paulista. Eu me sentia um peixe fora d’água quando entrei em São Paulo, que é ao mesmo tempo uma cidade encantadora e assustadora. São Paulo parece sempre ter pressa e eu pareço nunca ter pressa nenhuma. E o menino conversava comigo como se eu merecesse a sua atenção. Estou sempre querendo aprender com a vida e aquela vez eu aprendi. Hoje aprendo sempre o lendo e lendo textos de colegas escritores, alguns, “mestres escritores”...

Hoje eu aqui numa cidade do interior do Brasil, crio minhas netas com medo de botar os pés na estrada, um pouco traumatizado, depois de alguns golpes bárbaros sofridos, e fico a pensar no meu amigo “aquele menino” que saiu lá do Recife e foi pra São Paulo se aventurar: acho que sou covarde, eu não teria esta coragem. Longe da família, longe dos amigos, criar um novo ninho, viver novos amores, arriscar-se...

A vida me obrigou a me acomodar. Antes eu alegava que era para ajudar meus pais paupérrimos e meus irmãos, depois porque casei e tive filhos, agora porque estou velho e aventuras são para os jovens. Meu tempo passou. Eu me vejo naquele menino. Ele tem um pouco do menino que eu fui, porém tem uma coisa que eu nunca tive diante da vida: CORAGEM.

Obrigado menino por aprender contigo a voar feito os pássaros. Quem sabe eu possa eu possa fazer como as águias que um dia se debatem sobre as rochas, arrancam suas penas, quebram seu bico, esperam um mês neste sofrimento, com dor e fome, para depois recomeçarem uma nova vida.

Obrigado Anderson por ser meu amigo. Por ser o Menino com alma de anjo que você é... e por me ensinar coisas tão belas quando escreve.

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06.10.12

Este texto é dedicado a um amigo recantista ANDERSON RAMOS que sempre tem palavras carinhosas comigo, dedicando-me uma amizade sincera, praticamente virtual, pois nós só nos vimos uma tarde e no outro dia almoçei com ele e com seus amigos. Agora só nos falamos por aqui ou pelo facebook.

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 06/10/2012
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