RECLAMAS DO QUÊ?

É muito comum ouvirmos as pessoas reclamando dos políticos e demais homens públicos. As acusações são de vários tipos: corrupção, benesses, falsidade, desinteresse por aqueles que o elegeram e despotismo. Nossas principais cidades mostram falta de saneamento, lixo à mostra, engarrafamentos monstros, encostas perigosas, transporte público insuficiente e indecente, educação caótica, sistema de saúde precário e uma defesa civil incipiente. Concordo, portanto, com tais reclamações, pois temos que agir assim mesmo, na esperança de que isso aqui melhore algum dia.

Mas – e sempre existe um mas – quem habita este conto de fadas chamado Brasil não é nem um pouco sensato ao fazer tais reclamações, além de mostrar-se tão indignado. Vejam o que disse o escritor e economista Waldo Luís Viana: “Na verdade, por nossas condições subdesenvolvidas de educação e caráter, arriscaria dizer que nosso povo é muito pior do que os políticos que ele elege e por isso não adianta reclamar, a não ser nas tradicionais filas de hospital e banco. Somos um povinho bunda com representação de esgoto e o panorama vai continuar assim, até o momento em que o voto não for mais obrigatório, mas isso jamais irá acontecer, uma vez que as elites políticas jamais o permitirão”.

Já há um bom tempo circula na internet um documento com diversas definições sobre o que vem a ser o brasileiro. São verdades incontestáveis e que levante a mão aquele(a) que nunca praticou pelo menos algumas delas. Fiz uma triagem e vou reproduzir trinta delas a seguir (tem mais, porém decidi ficar apenas nas trinta):

Coloca seu nome em trabalho que não fez.
Coloca nome de colega que faltou em lista de presença.
Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas (e ainda faz festa).
Estaciona nas calçadas, muitas vezes sob placas proibitivas. Afinal, não respeita e não cumpre leis (a lei, ora a lei!).
Suborna, ou tenta subornar, quando é pego cometendo alguma infração, principalmente no trânsito (e muitos aceitam o suborno na cara dura).
Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, dentadura, viagra...
Fala no celular enquanto dirige.
Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos (me dá um toque que eu retorno!!!). Assim, o amigo não paga nada.
Trafega pelo acostamento num congestionamento (ignora os riscos de acidente).
Para em filas duplas e triplas em frente às escolas (pelo bem dos filhinhos).
Viola a lei do silêncio (trabalho em hospital e sei o que é isso).
Dirige após consumir bebida alcoólica (você ainda acredita em campanhas?).
Fura filas, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas (os velhinhos então, estão impossíveis nesse quesito).
Coloca churrasqueiras e mesas nas calçadas públicas e faz um belo churrasco (uma verdadeira farra do boi).
Pede atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho e não ter o dia descontado.
Faz “gato” de luz, água e TV a cabo (só não faz do gás porque acha perigoso).
Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos (essa é antiquíssima).
Compra recibos médicos para abater no informe de rendimentos pagando menos imposto de renda (e muitos médicos praticam a falcatrua).
Quando viaja a serviço pela empresa, se a refeição custou R$ 10,00, pede nota fiscal de R$ 20,00 (e o restaurante dá).
Comercializa objetos doados nas campanhas de catástrofes (e alguém compra).
Estaciona em vagas exclusivas para idosos e deficientes (e não é multado e nem advertido por isso).
Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.
Compra produtos piratas, mesmo sabendo que o são (justifica dizendo que os originais são caríssimos).
Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA (um órgão de imprensa da cidade de Santos/SP chegou a utilizar-se essa tramóia).
Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, borrachas, lápis, papel para impressora (como se isso não fosse furto).
Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe da empresa onde trabalha.
Falsifica tudo, tudo mesmo, só não falsifica o que ainda não foi inventado.
Quando volta do exterior, nunca diz a verdade ao fiscal aduaneiro (e reclama acintosamente se cai na malha fina).
Quando encontra algum objeto perdido, geralmente não devolve (se devolve vira celebridade nacional).
Vai até a escola e dá a maior bronca na professora ou professor que deu bronca e/ou notas baixas a seus lindos e educadíssimos filhinhos.

Com tudo isso ainda quer que os políticos sejam honestos. Escandaliza-se com o mensalão, o dinheiro na cueca, a dança da gordinha, a farra das passagens aéreas. Esses políticos que estão aí saíram do meio desse mesmo povo. Brasileiro reclama de quê, afinal?

Temos que adotar uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde se fizer necessário. Vamos dar o bom exemplo. Espalhe essa ideia.

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