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         Minha vida, reconheço, é inverossímil. Para tentar evitar futuras más, ou indevidas, interpretações, resolvi escrever esta Desautorização Pública, abrangendo a todas as pessoas que conviveram comigo, incluindo o mundo virtual. Pode parecer uma atitude antipática, mas, não é.  Encaro como necessária.
         Trata-se do seguinte: desautorizo publicamente qualquer pessoa a dar explicações sobre minha vida, agora, ou quando me for. Ninguém possui todos os dados. Ninguém. Nem mesmo as pessoas que mais se aproximaram, ou, as que permaneceram mais tempo. Sempre respeitei o mundo individual de cada um, atendo-me ao que a pessoa esperava de mim... Bem, quase sempre... Acontece que  me interessei por mundos diversos. Apesar, de ter iniciado minha vida em guetos, assim que percebi a vantagem da abrangência, desvinculei-me, conscientemente, de todos.
         As pessoas costumam falar dos mesmos assuntos. Permanecem, normalmente, nas mesmas preferências. Sempre respeitei este dado, mantendo os relacionamentos dentro desta margem. Invariavelmente, ajustada aos interesses da outra pessoa. Se esta não gosta de política, não falo. Se só gosta de futebol, não falo... Se só fala de sexo, de sacanagem, posso recorrer a algumas longínquas memórias. Mas, não quer dizer que meu mundo se resuma a estes assuntos.
         Antes de vir pra cá, fatiei minha tragédia, para não sobrecarregar meus amigos, com tudo de ruim que desabou sobre mim, em Paraty. Ninguém soube a história toda. Este é apenas, um exemplo. Desde que abandonei São Paulo, talvez, influenciado fortemente, por Castañeda, tomei o cuidado de, literalmente, fatiar minha história.
         Quanto à minha família. “Deixei-os” há muito. Não tem como eles se proferirem a meu respeito, desde que entreguei ao mar. Mesmo antes, a comunicação sempre foi precaríssima. Um sofrimento para ambos os lados. Aparelhos muito diferentes, tentando sintonizar uma só frequência. Não tivemos sucesso. Ninguém é culpado. É fato. Triste, claro, vocês não imaginam o rombo, mas, FATO!
         Tem um detalhe importantíssimo: troquei de tom, reencarnei em vida, mais de uma vez. Cada vez que isso aconteceu, deixou pra trás, tudo que pertencia ao som anterior. Os posicionamentos, as crenças, os gostos, as pessoas! Ninguém me acompanhou!       
         A única fonte segura para saber de mim é através de minha já, abençoadamente farta, obra. Nunca escrevi ficção. Tudo que está ali é o pensamento, o sentimento, o pulso, a dor, a paixão, a propensão à alegria, que habitaram em mim, e, ainda persistem, agora sob o manto azuldourado do lirismo que me atravessa.


O término no link abaixo:

http://claudiopoetaitacare.blogspot.com.br/2012/10/desautorizacao-publica-reencarnacoes.html

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Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 07/10/2012
Código do texto: T3920736
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