A CIDADE E O QUE FICA...

Esta é uma cidadezinha como todas as outras. A praça, a prefeitura, as igrejas, a escola, o hospital. As casas, que parecem só mudar as frentes. Os olhinhos curiosos a espreitar os que chegam e os que se vão. Uma calma inundando tudo. Uma simplicidade nas gentes e nas coisas.

Mas se as cidades tivessem alma, a desta seria imensa, de uma grandiosidade que transborda para os arrabaldes, que purifica o perto e o longe.

E o que faz esta cidade ser tão pequena e tão grande, dividindo-se, a um só tempo, entre o nada e o tudo?

Certamente são as suas singularidades. O seu Outeiro, com aquele balé típico das canoas e das velas multicores. O seu Pericaua, onde só a altivez dos coqueiros parece quebrar o isolamento. A sua Saçoitá, com uma paz tão paz que nem mesmo o chafurdo do vento e das ondas a espantam...

Certamente a sua gente. Gente boa, gente hospitaleira, gente que, mesmo na rudeza e na simplicidade da vida e da lida, consegue transmitir aos que chegam uma felicidade boa de sentir, que envolve sem muita explicação...

Esta cidade se impregnou em mim de maneira fatal. Imprimiu-se em mim como letra talhada na rocha. Encheu-me de uma sensação boa, meiga e singela, que eu vou levar, para sempre, nos alforjes do pensamento.

............................

Estive em Cedral em 1999, ministrando umas aulas por lá, quando fiz este texto, impressionado pela sua beleza natural e seu acolhimento de ninho. Voltei depois em 2001, e senti a mesma coisa... É uma cidadezinha para se lembrar ad infinitum.