As ilusões da tristeza

 
O adeus tardio veio depois de muitas trovoadas... a cada frase dita um novo clarão iluminava as flores murchas do meu jardim devastado. Escondidas sob as sombras do meu pesar, suas pétalas sem cor repousavam sobre a terra lodosa.
 
Foi tudo tão tardio... E eu aqui, tentando achar uma resposta para o que não é justo nem nunca será, percebo neste momento que não há respostas para o vazio. Quando a alma carrega a agonia de não ter nada o que carregar só resta a tristeza, essa extrema tristeza de não ter o que se devia estar no lugar certo. Aqui, bem aqui, dentro de mim, não há vida.
 
Minha vida se foi...
 
Sorrisos e roupas coloridas não vão expressar o que sou, porque aqui dentro, bem dentro do meu ser, tudo é escuro e triste.
 
Minha cara amante trevosa... você que lê e acompanha minhas crônicas. Esses tristes textos de lamentações. Sabe o que estou fazendo agora? Estou tentando suportar minhas dores físicas. Por todo o corpo sinto inchaços e um cansaço terrível me assombra.
 
A realidade é terrível, minha querida amante trevosa. Eu não pertenço a este mundo.
E você me pergunta: “Então, por que foi morar nele?”.
 
— Eu não sei! Eu não sei!
 
 
Você já viu um anjo das sombras caindo no mundo da luz? Se cair não é a palavra certa, eu a defino dessa maneira. Porque este mundo de luz é sujo demais! Falso demais! Horroroso demais! Tudo aqui é uma tortura, uma escravidão!
 
Neste momento estou olhando para meu gorro, luvas, maquiagem e demais vestes... Tudo sobre a cama empoeirada. O bufão soturno me convida para voltar. Eu quero voltar. Minha alma é aquele bufão gótico. E eu, aqui, neste mundo de aparências e degradação, sinto apenas um vazio enorme no coração. Estou sem alma.
 
E todas essas ilusões e pesadelos que vislumbro à noite, todos esses devaneios psicodélicos, tudo, enfim, tudo vem dessa minha tristeza.
 
Posso até ser louco (e gostar disso), mas não é a loucura. É a tristeza que me consome de ilusões...
 
É dela que me alimento. Nas trevas eu me sinto bem. Portanto, esteja pronta para me receber se um dia eu abandonar tudo e voltar para o que sou. Para meu lugar, longe dessa alegria hipócrita que enfeita o sorriso dos que não encontraram nada para preencher seus vazios.
Sr Arcano
Enviado por Sr Arcano em 11/10/2012
Reeditado em 05/05/2014
Código do texto: T3927793
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