O GUARDIÃO

Eu sou o guardião.

Guardião do que? Das árvores, ora!

Muita gente acha que eu já estou até me parecendo com uma árvore. Eu, sinceramente, não acho. Mas se assim for, não me importo. Afinal, existe algo mais lindo do que uma árvore?

Em Paquetá, onde eu moro, elas são muitas e estão por toda parte. Nos quintais, no meio das ruas, interrompendo muros, passando por cima e, às vezes, por baixo das casas.

E são de vários tipos, para todos os gostos. Para quem aprecia as flores, flamboyant, acácia, ipê, papoula, pata-de-vaca, dama-da-noite, azaléia, bouganville... Para os que preferem as frutas, manga, laranja, limão, sapoti, carambola, pitanga, jaboticaba, acerola, cacau, abacate, cajú, fruta-de-conde, jambo, jamelão, tamarindo, graviola, figo... até café!

Tem também o Pau-Brasil, aquele que deu nome ao nosso país.

E o Baobá? Ah... este é especial... O nosso com suas belas flores, que mesmo depois de secas continuam belas, aveludadas e, dizem, portadoras de sorte... mas frutos, não os tem. Pudera! Esse nosso amigo de quase 400 anos é um exemplar macho.

Eu estou aqui hoje para uma tarefa especial. Venho fazer um pedido. Há muito tempo que eu cuido das árvores e, ultimamente, venho me sentindo cansado. Também, o trabalho aumentou. Não que as árvores tenham crescido em número, ao contrário... infelizmente, é justo por isso que tenho trabalhado tanto!

Tem gente que vem nos visitar e se apaixona pelo lugar. Claro! É tudo tão lindo... Aí resolvem vir morar e, ao invés de aproveitarem o que temos de bom, decidem modificar as coisas, deixando o lugar com cara de qualquer outro bairro. Isto é um absurdo! Afinal, isso aqui é o que é, justamente porque é do jeito que é. Ou não é?

Por isso eu peço: juntem-se a mim e protejam as árvores. Gritem, esperneiem, se agarrem a elas se for preciso, mas não permitam que elas sejam feridas em sua dignidade pelas facas dos falsos enamorados, ou que tombem em nome do progresso. O nosso progresso depende delas. Elas nos receberam quando aqui chegamos, são testemunhas da história e continuarão neste solo mesmo depois de nós irmos para debaixo dele.

Pensem nisso. Uma árvore não é só flor, fruto ou sombra. Ela está tão viva quanto qualquer um de nós.

Paquetá agradece.

obs.: Paquetá, é uma ilha situada na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, um local onde só se chega de barca (1 h de viagem do centro do RJ), onde não existem carros, o transporte e feito através de bicicletas e charretes. Provavelmente, o último bairro da estado onde se consegue viver atualmente com qualidade de vida. Em paz.

Maria Luiza Falcão
Enviado por Maria Luiza Falcão em 25/02/2007
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