De frente para a TV

 
Quando tudo começa a ficar mais branco, tendo como pano de fundo um mundo que nada nos trará, percebemos o vazio que assola-nos a alma.
 
É como se tudo fosse uma enorme esfera sem sentido. Um arco no tempo que nada abraçará. Nem mesmo o mundo.
 
E eu, nesse dilema da relidade, pareço um estranho.
 
Não que eu viva de extremos insignificados. Tenho muitos sonhos para livrar-me disso.
 
O problema é outro. Estou me desfazendo em pequenos pedaços. Desintegrando como peça de barro que solta areia ao vento.
 
A dor é passageira? Acho que não. Ela permanece, e por mais que lutemos contra ela a sensação de vazio sempre retorna.
 
Esqueci minhas anotações em algum lugar empoeirado (nem lembro mais onde), e meus sonhos não estão tendo a devida atenção que merecem.
Pela primeira vez ando desacreditado da vida.
 
Outros discordarão, já que em meus pensamentos a vida nunca valeu a pena mesmo, mas é justamente o contrário. Quanto mais acreditamos na vida tal como ela se apresenta nas regras, na religião e no sistema, mais deixamos de viver.
 
Os sonhos não estão nas leis, nas igrejas ou no trabalho. Eles são frutos de nossa liberdade, que por sua vez só é conquistada quando temos um sentido para continuar vivendo, uma razão que nos guie para uma espiritualidade livre dessas correntes que nos prendem à sociedade.
 
Hoje não há muito o que dizer.
 
De frente para a TV, banalidades e tragédias empobrecem meu espírito.
 
Se você, caro leitor, tem algum amor por sua vida, desligue essa TV e vá ser livre. O mundo está cheio de imbecis porque são poucas as pessoas que lutam contra aquilo que as desarmam.
 
Mas vá logo, leitor, antes que seu sofá fique cheio de "teias de opiniões triviais", e seu corpo sucumba à escravidão de uma rotina tristemente necessária.
 
Vá logo, porque os risos dessas propagandas são encenados. A moral dos fatos apresentados não é algo que todos querem seguir. E todos querem que você continue aí, sentado, tal como eu, para que este enorme cemitério possa sempre ter-nos por perto, como anjos-da-guarda tristes que irão velar todos os mortos de nossas falsas vidas.
 
Vá logo. E eu continuo aqui. Porque enquanto houver a cor preta que escreve estes delírios sobre o branco de uma tela, enquanto houver "papel e lápis", sonharei.
 
E você? Sonhou até quando? Lembra-se do dia em que morreu?
 
Então ressuscite!
Sr Arcano
Enviado por Sr Arcano em 15/10/2012
Reeditado em 01/02/2014
Código do texto: T3934128
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.