QUASE TUDO AMARELINHO

- I -

Estou no Rio. Sentada no Amarelinho. Cinelândia. À frente a majestosa Biblioteca Nacional. Avenida Rio Branco. Burburinho, chuva, chuvisco, chuvinha. Pessoas apressadas. Cariocas.

Bebo um chope. Gelado primeiro dia de outono. Praça Floriano. Rio de janeiro.

Pedi Carne de Sol. Tem que ser de São Cristóvão. Compensar a carne de Chuva.

- II -

Ironia. Vou ao Fórum para me divorciar. Eu não. Representar meu irmão. Chuva. Gente. Amarelinho. Pessoas se abrigam da chuva. Trânsito. O de sempre.

Como eu amo o Rio de janeiro!

Eu me divorciaria mil vezes. Para voltar aqui. Com chuva. O dilúvio. Eu me afogando em chope. Do Amarelinho.

- III -

Estou num reduto real. À frente a Biblioteca Nacional. À esquerda o Teatro Municipal. Uma nesga da Escola de Belas Artes. Amarelinho meu ponto de observação. Com chope tudo fica mais claro. Mesmo com chuva. Entre tantas vozes eu ouço a minha voz interior. Imperativa. Viva.

Uma homenagem. Uma estátua. O bronze enegrecido pelo tempo. Passei mil vezes por aqui e jamais enxerguei o que enxergo agora com a chuva...

- IV-

Um homem come cachorro-quente numa tarde fria chuvosa. Na mesa lateral alguém contempla seu interior e fuma. (o que pensará sua cabeça feia?). Um casal conversa e come. Come e conversa. O que falam? O que comem? Vejo muitas batatas cozidas. Em outra, à frente, alguém come e vê TV. Mastiga olhando para a TV. Não vê o que come. Mastiga o que vê.

A chuva deu uma folga. Há um sol preguiçoso. Um mormaço. Um cara esquisito com uma caixa amarela olha para cima. O que contém a caixa? Olha para onde? Garçons passeiam suas bandejas vazias. Pombos buscam migalhas. Eu espero pelo meu prato. Um segurança palita os dentes. Mantenho minha bolsa à vista.

Não dá para arrumar namorado. Minha comida chegou!

21/03 Circa 2000