Falsos profetas

Falsos profetas

Apesar da televisão ser um sonho de consumo presente em todos os lares desse vasto chão brasileiro, o aspecto cultural e social continua arraigado lá na idade média. Prova disso são situações que o noticiário divulga e a gente não acredita, quando vê ou ouve esses fatos. A última que me surpreendeu foi o quase linchamento de um falso profeta no nordeste, mais especificamente na Paraíba. O trambiqueiro se dizia profeta e vivia da exploração dos pobres, anunciando o fim do mundo para o dia 12 de outubro passado. Com o dinheiro dos seus seguidores ele se mantinha e mantinha as mentiras que atraíam para si, os bens daqueles que nesse dia iriam para o outro mundo. Mas eis que chega o dia 12 de outubro e o mundo continuou aí, vivinho da silva, com seus problemas e mazelas, e os coitados depenados, se revoltaram e quase lincharam o trambiqueiro. Há suspeitas inclusive de que ele iria cometer genocídio, levando o grupo ao suicídio coletivo. Mas entre tantos tolos, houve um mais ativo que liderou a revolta e o safado passou por maus momentos antes de ser preso.

Já tivemos notícias de fatos assim, hediondos e vergonhosos. As pessoas se deixam iludir por quem tem um certo carisma e uma boa oratória. Fabricar ilusões para vender a quem está sedento de sonhos, espalhar falsas esperanças e fazer castelos de areia na cabeça de quem tem a mente muitas vezes vazia, é fácil para quem não tem escrúpulos, amor ao próximo ou medo das consequências. Vemos isso todos os dias com o crescimento exorbitante de milhares de igrejas que se espalham pelas cidades, sejam elas grandes ou pequenas. Cada vez mais a população mais humilde se vê dividida entre milhares de células religiosas que se multiplicam com discursos e promessas diferentes. E a maioria delas, infelizmente, sobrevive de ofertas, estimuladas pela promessa de um lugar no céu. Ouvi recentemente na TV, um pastor muito popular no seu programa diário dizendo aos seus fiéis para não ficarem em dívidas com Deus, para que todos pagassem em dia o dízimo e convidava àqueles que precisassem de um milagre para participar do culto religioso onde, através de sua doação poderiam alcançar a graça pretendida. Alcançar um milagre era só questão de ter o dinheiro para a oferenda e a fé suficiente para alcançar o sonho. Não preciso dizer que a frustração fica com o coitado que sempre vai pensar que não teve fé suficiente, mesmo que a oferenda tenha sido gorda.

E assim caminha a humanidade... A humildade e a ignorância sempre serão a porta de entrada para oportunistas e exploradores. Tal qual acontece na política, onde se vende sonhos com falsas promessas, onde a esperança ganha siglas, partido, nome, número e se espalha pelas ruas em santinhos e anúncios que às vezes beiram ao ridículo, de tão exagerados que são. Mas o povo acredita e muitas vezes colocam no poder ídolos de barro que só ficam ocupando espaço, que esquecem rápido as promessas e os sonhos semeados entre o povo. Isso se repete sempre, de dois em dois anos, depende da esfera. Com o tempo, o povo vai aprendendo a não acreditar só em promessas e busca o concreto do que deveria ter sido feito. É por isso, que de vez em quando os falsos ídolos caem, apesar da máquina administrativa funcionar a seu favor, apesar dos apoios políticos fortes e apesar da vasta propaganda em cima de um cargo eletivo. Nesse caso, o linchamento é moral, mas dói e marca da mesma forma.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 18/10/2012
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