Sobre a Ponte JK

(Para a eternamente amada S.S.)

Hoje à tarde ao voltar do almoço um bêbado gritava pra todo mundo: “Você pensa que é só mulher que chora?! Homem também chora!” e eu ri intensamente dele com meus colegas de trabalho. Bem, na verdade, aqui estou eu olhando pra ponte JK, com um sentimento um pouco parecido com o daquele bêbado, o sentimento de gritar as tristezas do homem pra

todo mundo; de uma forma um pouco mais sensata, digamos.

Olhar pra ponte JK só me lembra de você, de você olhando pra mim pela primeira vez no restaurante e me fazendo confissões e pedidos, enquanto bebíamos mojitos. De te beijar e andar do seu lado olhando pra iluminação da ponte. E depois foi por essa mesma ponte que por tantas vezes eu passei pra ir pra sua casa, a ponte que une seu bairro ao meu, a ponte que une a sua casa à minha, a ponte que, por inúmeros dias, uniu seu corpo ao meu. Ela ainda é a mesma ponte.

Seus olhos brilhavam olhando pra ela, cheios de uma esperança triste ou sei lá o quê, algo que nunca consegui entender em você. Talvez fosse você que a iluminava, não sei, eu sou um idiota, eu nunca sei. Você, loirinha, era um sol naquela noite e nas outras noites que passamos juntos.

Agora eu sou obrigado a conviver com essa porra dessa ponte; não foi um barzinho, ou um restaurante, ou um motel, ou uma faculdade que foi o marco escolhido pra que eu me lembrasse de você: foi um dos pontos turísticos mais famosos da cidade. E como se não bastasse, cada centímetro daquele caminho que levava à sua casa, o Lago Sul inteiro, as pessoas que eu conhecia antes de você, que parecem que agora são outras, a cidade inteira, minha cabeça, minha cama, minha TV, minhas apostilas mórbidas da pós-graduação, tudo canta pra mim uma canção em sua homenagem e em sua memória. Você transformou não só a ponte, mas meu mundo inteiro, e agora você não está mais nele.

Olhar pra ponte é insuportável, essa cidade parece insuportável, tudo é inóspito, insosso, tudo é um mundo que não é mais; e a ponte JK parece que não me liga a mais nada. Mas ela ainda é a mesma ponte: ela ainda está lá. Assoladora, enorme, algo como os pálidos dentes de marfim arrancados de um elefante morto. Por quantas vezes eu passei por essa ponte pedindo desculpas pras pessoas, arrumando confusões, quase batendo em carros, só pra te ver, sem me importar se iríamos fatalmente brigar? Enfrentei Land Rovers, reuniões, engarrafamentos e cartões de crédito por você, num mundo louco e absorto de nós dois.

Talvez você ainda olha, sei lá, pra esse monumento à tristeza do homem. Não sou de chorar, nunca fui um homem como descrito pelo bêbado de hoje. Mas infelizmente eu também não sou de esquecer, especialmente quando todo o meu mundo me lembra de você; e eu te amo, te amo, te amo e te amo. Quer saber, pra mim essa ponte podia é explodir, já que talvez nunca mais você vai ser minha. Mas eu olho pra ponte e pro meu celular e, sinceramente, não sei se eu quero atravessá-la de novo.

Ela ainda está lá