SALVADOR,ATÉ AMANHÃ... (publicada na edição de aniversário de 43 anos da Tribuna da Bahia,um dos principais jornais de salvador)

SALVADOR, ATÉ AMANHÃ...

Olho para um céu azul e contemplo o sol, que mais que dourado é intenso e vibrante. Seus raios ultrapassam a minha pele e permeiam o meu ser com alegria, musicalidade, espontaneidade e sabor de pimenta.

Claro que estou falando do sol soteropolitano, cujos reflexos trazem o perfil do povo baiano, adornado pela exuberante beleza das famosas praias de Salvador, musas eternas da poesia!

Penso que a mesma harmonia com que convivem os nossos antigos casarões e as moderníssimas construções se faz presente no poder que tem povo baiano de acatar diferenças, conciliar em suas festas populares, o profano e o sagrado, e ainda nelas integrar pessoas de diversos credos e origens.

Notável a variedade das suas manifestações artísticas, especialmente na criação de ritmos musicais, e na rica culinária que abraça influências indígenas e africanas.

Isso tudo faz de Salvador um “eterno” cartão postal que desperta a curiosidade turística,trazendo olhos que nos veem como encanto e magia, e mesmo os que preconceituosamente nos chamam de preguiçosos, ficam loucos para vir à Bahia! (Só para alimentar o vício da rima).

Apesar disso, não posso ocultar que tenho visto nos últimos anos, ameaças à integridade desse cartão, capazes de transformá-lo em papel rasgado.Sim, porque carente está o povo baiano de vida digna, e portanto, de condições que lhe assegurem a preservação do seu potencial de tranqüilidade, alegria, criatividade e bom humor.

O que tenho visto é o descaso das autoridades para com a saúde, e o medo gerado por desenfreada violência, caminhando paralelamente com o descrédito por parte da população na segurança pública.

Vejo ainda o trânsito, cada vez mais caótico produzindo com os seus intensos congestionamentos o que parecia impossível: O estresse baiano.

Medo, violência e estresse, tríplice aliança, que vem fazendo também desaparecer paulatinamente um dos nossos grandes atrativos turísticos: as festas de largo!

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Salvador cresce desordenadamente, sem planejamento, e o nosso povo, que é puro movimento, encontra-se, sob todos os aspectos, tolhidos dessa mobilidade.

Mas como o baiano também é mistura de ritmos e cores, e como baiana que sou ,(pretensamente retada e não arretada-outros estados do Nordeste é que usam o “a”) paro aqui com os tons de cinza (não os cinqüenta...) e uso então tintas multicores para afirmar que ainda acredito na recuperação da nossa Salvador.

Acredito na adoção de políticas eficazes baseadas mais na educação do que na punição, para o combate de tais mazelas.

Estou apostando ainda em uma Salvador em que sejam valorizadas as praças públicas, incentivada a cultura e respeitada a história, no que evidentemente se inclui a revitalização do hoje abandonado pelourinho.

O porquê da minha esperança? Mera convicção pessoal: O que estamos vendo não é a essência, é uma roupagem que se impingiu a nossa querida capital, porque em verdade Salvador tem alma de cartão postal, porque nós baianos temos espírito de renovação, de criatividade, que inevitavelmente emergirá em breve tempo na instrumentalização de mudanças de base, políticas e sociais que devolverão à capital baiana, todas as cores por ora esmaecidas... apenas esmaecidas...

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 22/10/2012
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