Guilherme Cabral

Guilherme Cabral

Existem dias em que temos vontade de dizer poucas e boas ao primeiro à nossa frente. São dias de fúria de Michael Douglas na cena mais eletrizante do filme. Coisa não rara numa época de grande descortesia e agressividade. Hoje, quando vinha ao trabalho com o horário estrangulado, entrei correndo no 517 sem pestanejar. Perguntei se o veículo parava na entrada do Boaçu. O motorista respondeu positivamente “sim”. Dentro de segundos, uma curva a direita e a BR 101. Reclamo ao motorista a informação errada prestada por ele. Cinicamente, me disse: “O ônibus passa pela entrada do Boaçu sim. Na BR. Não estamos indo ao Boaçu?”. Filho de alguém muito especial foi o que tive vontade de dizer para ele. Sabia que a entrada o Boaçu fica no Centro de São Gonçalo. Assim que se diz por aqui. É nessas horas que me arrependo de não ter o costume de dizer palavrões. A mãe do condutor teria sido homenageada ao contrário.

Desci furioso. Anotei o número do carro na agenda do telefone. Mudei meu trajeto. Entrei na linha 37 de outra empresa. Imaginei a reação do profissional do volante quando ouvisse seu chefe comunicando desconto de salário pelo mau tratamento dispensado ao passageiro. Cresceu em mim uma súbita alegria cruel. A taça com o veneno escarlate da vingança reluzia. Nesse ínterim, entra no carro o Marcus Vinicius, meu aluno boa praça. Sentou-se ao meu lado, sem os fones de ouvido. Conversamos. Adivinha sobre o quê.

Quem conhece uma pessoa indignada sabe muito bem o que o pobre do rapaz teve de ouvir. E ouviu serenamente. Saltamos. Mudei de assunto, mas as cobras e lagartos insistiam em aparecer. Eram jiboias da Praça de São João nas mãos dos mambembes dos meus tempos de menino ou serpentes encantadas de Marrakesh. Os lagartos já não passavam de lagartixas inofensivas da casa da vovó. O enredo do filme mudou. Era quase Forrest Gump.

Chegamos à escola. Na minha mesa estava o Guilherme com este notebook no qual digito e a Thaís Conceição. Ambos retribuíram meu bom dia sorridentes.

Sorriso é algo contagiante. O da Thaís é suave e franco ao mesmo tempo. O do Guilherme é instantaneamente transformado em larga gargalhada. Engraçada, sem ser jocosa. Parece riso de personagem de desenho animado. Seu riso me leva de volta ao mundo mágico de William Hannah & Joseph Barbera nas tardes diante da TV ainda em preto e branco do menino de barba grisalha escrevendo agora diante duma tela de cristal líquido colorida num editor de texto em versão bastante avançada. O personagem título desta crônica, que nasceu querendo ser conto e não conseguiu devido ao temperamento meio iracundo do escritor necessitado de desabafo apareceu há pouco timidamente como no início do período letivo. Qual o telefone da empresa de ônibus? Como era a cara do motorista? O que ele disse para mim? Nem sei mais! Importa agora falar do Guilherme.

Eu dizia do sorriso! Seu riso, ou melhor, sua gargalhada é extremamente contagiante e agregadora de bom humor e companheirismo. Somente o dono da risada mais franca e sonora da turma seria capaz de permitir a presença de outros dois personagens na sua crônica. E não para por aí. O Vinicius Silva agora tenta conectar este notebook a Internet a fim de que consigamos fazer uma pesquisa. O Vinicius Paulo junta-se a nós. Lucas Nunes e Lucas Souza aproximam-se a todo instante. Juliana, Jennifer, Verônica, Midiã, Evelyn, Leilane, Marcelo, Mateus, Jéssica Fonseca e Iorran estão por aqui. Todos estão envolvidos com a Feira Integrada de Ciências e pousando para fotos individuais da formatura. Hoje é um dia atípico e de muito corre-corre. A felicidade, porém, não foge de nós. Confesso a você que ela é contagiante e perene se o jovem Cabral está presente. Que seja eterna e democrática como é o Reino do Céu. No que depender desse violonista e compositor chamado Guilherme, o catalisador das gentes, isso será uma verdade. Tenho certeza.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 25/10/2012
Código do texto: T3952079
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