O limite do meu amor

Valium, Rivotril e cervejas, quinta-feira em casa. sentindo o suor escorrendo lentamente pelas minhas pernas, como orvalho no tronco de coníferas milenares. eu sou um corpo e um universo milenar, eu perco a memória de mim mesmo, da minha história de árvore, dos meus galhos, dos pássaros, das mulheres e das baladas. eu perco o calor. os barbitúricos exaurem minha energia pútrida de chá de raiz.

duro, estático, na cama, ouvindo a chuva e a Feist. sem coragem de pegar em livros, fugindo de pensamentos profissionais, olhando pro meu terno pendurado no armário com vontade de queimá-lo ou de comê-lo. escorrendo na testa e nos pés, meu apartamento quieto e calorento, um ninho de fastio embriagado.

"Oui, c'est dans cette atmosphère qui'il ferrait bon vivre", meu bom companheiro, meu igual, meu irmão.

eu acho que estou fugindo da literatura e voando em direção às drogas, fugindo da vida, estou me entregando agora ao afogamento eterno, profundo e escuro da minha própria alma enigmática e sombria.

ó, Milady! Onde estás? A noite chupa você todinha enquanto eu sou um surrealista chapado, com fome - como Miró - que nunca vai

ou, hahaha, sei lá o quê

existe um LIMITE para o meu amor. Como uma cachoeira em slow motion, quadro a quadro, como luzes de vinho;

até que

mágica e desfragmentação da cabeça & gelo

- onde a felicidade está casada com o silêncio -