ASSIM NASCEU UM POETA

Um menino sempre mal vestido, magrela, branquelo, pernudo, calado, com dois olhos castanhos mexendo nas órbitas, quais câmeras eletrônicas registrando tudo e processando os dados obtidos, através de um coração poeticamente sensível e de um cérebro com possibilidade de criação ficcional e científica ainda não imaginado nem sonhado. Trazido, a contragosto, da fazenda, lugar paradisíaco, onde nasceu e onde passou a infância numa felicidade incomparável, sendo educado com a braveza e a rigidez do pai e a mansidão e a doçura da mãe, em meio à fartura de tudo que se possa imaginar para aquele modo de vida, acostumado à liberdade: tomando banho no córrego, montando cavalos velozes, andando pelas matas, pescando e catando frutas silvestres,... Certo, também trabalhando pesado com foice, machado, enxada,... e na lida com gado, às vezes, gado bravo, selvagem.Trazido para a cidade grande e matriculado, com dez anos, no primeiro ano escolar, sem saber sequer pegar em um lápis (muito fino o lápis, se comparado a um cabo de enxada) fica qual bicho selvagem preso e espezinhado por todos, porém, possui dentro de si mecanismos de sobrevivência e começa a usá-los; contudo, sua simpatia de menino caipira, matuto não convence muito aos demais e acaba ficando pelos cantos. Arranja logo um emprego, questão de sobrevivência dele e da família (mora com um monte de irmãos e irmãs numa casinha alugada, de três peças) mantém-se estudando até terminar o Ensino Médio, após a conclusão desse estudo fica doze anos sem frequentar a escola, na só luta pela sobrevivência; seguindo esse longo período, resolve voltar aos estudos, presta vestibular para engenharia civil, passa, mas, devido às dificuldades financeiras e uma natural falta de propensão para o curso, desiste; mas, no ano seguinte, presta vestibular para Letras e, pensando que esse curso o ajudaria a superar a natural deficiência de comunicação e no domínio da língua, apesar da dificuldade financeira, resolve enfrentar uma universidade particular. Torna-se um dos mais aplicados acadêmicos de sua Turma, no curso de Letras; no decorrer do curso, torna-se frequentador assíduo da biblioteca da Universidade, pois, nunca havia tido acesso a tantos bons livros, os quais, passa a ler com avidez; um ano antes de sua formatura passa a lecionar inglês e português no Ensino Fundamental, na Rede Municipal de Ensino; logo mais dois anos, passa a lecionar, também, português e literatura no Ensino Médio da Rede Estadual; continuando os estudos, faz uma Especialização em Língua Portuguesa e Literatura; após uns doze anos lecionando, aposenta-se, por problema de saúde, como professor pela Rede Estadual de Ensino; aposentado, resolve fazer uma revisão dos textos que escrevia aleatoriamente e que estavam esquecidos em uns cadernos velhos, transforma-os em livro, o qual é publicado, com a ajuda de amigos; daí para frente não consegue mais parar de escrever, escreve como que por uma necessidade íntima; no ano seguinte escreve mais dois livros e os publica com a ajuda de familiares.

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 28/10/2012
Código do texto: T3956831
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