Tempo

A beleza das coisas acontece nos pequenos atos. Perdoar. Amar. Um gesto de carinho. Cumprimentar. O mais simples se torna grandioso e, assim, nos tornamos grandes à frente dessas simples coisas. Mostra-se valoroso, piedoso, amoroso nos faz ser cada vez mais humanos. Constrói-nos mais brandos a partir da ânsia que nos alimenta. Fazer-se sentimental muda mundos, alimenta almas, estabelece abstrações que nos concretizam como seres sem equívocos.

Realizar todas essas proezas perpassa por extremas necessidades de arrecadamento de valores extremos. Cada íntimo decorre em meio das situações, da nostalgia de uma essência para nos levar a uma identidade sem carências pelo outro sempre ao lado, mas com a própria naturalização do ser em si mesmo. A aparência sempre nos torna fracos. Permite-nos crer no que não é, mas pensar de mais pode nos fazer confundir os inteligentes com os sábios, já dizia Bacon.

Precisar de felicidade nos faz contribuir para sermos de caráter melhor. Acreditar em tudo que vemos pode ser equívoco demais para pouco tempo que possui o pobre humano e este, coitado, precisa de muito tempo para aprender certos valores. Se há coisa pior que isso, nós não conseguiremos descobrir, por falta de tempo. Querer tudo para já nos recua na vida, faz-nos reles. Temos tudo na mão e não enxergamos por falta de anseio, de desejo e por falta de usar nosso tão pouco tempo.

O desejo nos corrói. A transparência dele não é maior que a do vento que nos bate a cara, mas não nos suaviza. É pesado demais. E precisamos de muito tempo para nos recompor das quedas, apesar de vermos que o mundo não para. Liga-nos a uma mera confusão entendida para quem sabe ver. Para quem não usa os próprios olhos sem nenhuma cegueira, há apenas vida sem contemplações. Não consegue mostrar aos outros onde poderia estar errado. Não consegue ver o certo das coisas, muito menos as coisas como elas são.

A desarmonia das coisas destrói o mundo que é leve para os ambiciosos por uma vida repleta de felicidade e coisas boas: estes poderiam ser maiores que o espaço percorrido. Poder vivenciá-las é uma tarefa simples, mas se torna difícil para alguns que não sabem conquistá-las. O valor das coisas provém da capacidade de sobreviver a este mundo caduco.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 29/10/2012
Código do texto: T3958759
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