DEL’ EMILIA: A VIDA É LÍQUIDA

A vida é muito engraçada. Não tenho por hábito tomar vinho branco nem espumante. Gosto de tinto (e de cerveja). Abri exceção no calor do último domingo. A garrafa de espumante italiano estava lá na gôndola de bebidas do supermercado – onde sempre vou comprar coisas de última hora pro almoço mais afrescalhado do domingo – e, assim, me chamou para que a pegasse. Garrafa bonitinha. Preço razoável para um homem da Classe C – ou quem sabe D ou E, não sei ao certo – dado às coisas boas da vida. Verifiquei a procedência italiana e isso logo me trouxe a Toscana ou, sei lá, o mar de Nápoles, como vemos no cinema. Nem li direito a marca. Cheguei em casa, botei pra gelar hum baldezinho cheio de gelo e comecei a colocar vinis do Caetano, aos quais ouvi, quase sempre deitado na rede. Comecei pelo ‘Cinema Transcendental’, um dos meus prediletos. Dei um quarto de taça pra minha mãe e ela gostou muito, falou que iria comprar uma garrafa pra ela. Subitamente, olhei pro rótulo e li, abaixo no nome do vinho, o “sub-nome” Del’ Emilia. Puxa vida. Mas que boa coincidência: Emilia é o nome da minha mãe. Minha potente mãe. A hippie que nunca foi. A psicóloga que nunca foi. A escritora que nunca foi. A relativista que sempre foi.

O calor estava de rachar. Tenho por hábito jogar água em cima do telhado da varanda com uma mangueira (ecologicamente incorreto) não apenas pra refrescar o ambiente, mas, acima de tudo, para produzir um cheiro “artificial” de chuva. E como é bom o cheiro de chuva... O que seria da vida sem vinho e paraísos artificiais?