Feliz Carnaval

Não, o título não está errado. Para os que pensam que o carnaval acabou, afirmo-lhes que o desfile mal está começando. Como ignorar a comissão de frente ainda na avenida? "A posse do descaso", com o elenco em uma belíssima coreografia e seus ternos-figurinos, tão alinhados. Todos com suas maletas, seja gritando uns com os outros, seja sambando enfileirados, cada um com a mão no bolso do passista da frente. No meio deles, o ingênuo rei, com sua coroa de latão e seu manto de fios de ouro. Lindo, em sua ignorância e humildade, acenando para nós, foliões. Abrem a avenida para o resto da Escola, sem quase olhar para trás. Sem a comissão de frente, nada começa, mas agem como se estivessem lá apenas para sua coreografia.

Atrás, já na avenida, um abre-alas como nunca se viu. Por todo o carro, os bandidos e os fogos são de verdade, os mortos e feridos também. Só a polícia parece fantasia. A alegoria é imensa, com direito a juízes, deputados e publicitários enterrando escândalos sob incontáveis pás de dinheiro, todos com enormes peneiras, para evitar o sol. Bem no meio, lá está nosso rei, novamente. Sua cabeça imensa, porém leve, esculpida em espuma, sobre a qual um casal de passistas sapateia alegremente, em belas fantasias de ditador populista e índio cocaleiro. Dançam despreocupados, distribuindo tapas a gigantes. Um show tão grandioso como esse, leitores, só pode ser carnaval.

O impressionante abre-alas continua por cada avenida, onde quer que você esteja. De um lado, empresários e governantes vendados caem, veja você, em um buraco de metrô. Do outro, uma cena digna de novela: o nobre legislador virou líder e agora se choca com a violência e desigualdade de sua terra. Quase em prantos, jura ao povo nas arquibancadas que isso vai acabar. Comovente. Fechando a alegoria, todos os "sábios" de sempre, urrando soluções impraticáveis a ouvidos surdos.

Mas não, senhoras e senhores, o carnaval não acabou. Ao que parece, a Escola ainda tem muito a desfilar. Não deixem ainda de ser foliões, pois agora é oficial: as festividades durarão o ano todo. O abre-alas segue, sem parar, arrastando pelo asfalto o que restava de nossa dignidade e inocência. Parem os palhaços! Digam-lhes que o carnaval não acabou! Precisamos de mais gargalhadas sinceras e menos ironias amargas.