Tratado de paz interna

A vitória e a derrota sempre foram e serão uma das poucas antíteses que não se pode, em sentido objetivo, configurar um paradoxo, como objetos finais não coexistem; contudo, as tendo como sentimento, imperam em territórios distintos e contaminam ou a nuance do mundo externo ou a psique de quem é sujeito a ambas: a do competidor. A competição, principalmente a um nominalista como eu, é a força motriz do mundo, visto que este universo possui como característica a desigualdade e é a competição que, muitas vezes, as faz. Nesse contexto sempre vivi e tive consciência empírica de que se convive com a derrota e com a vitória; podendo, como sentimento, conviver com elas em paradoxo ou, como objeto, em antítese. O problema surge, contudo, hoje dia 01NOV12 cuja data atestou em minha experiência o terrível sentido da combinação de derrota como objeto e como sentimento, quando a competição não se deu somente no âmbito objetivo de um contra o outro; mas quando se deu diretamente numa batalha consigo, tendo os resultados comparativos como mera indireção. Sinto-me e fui derrotado, principalmente, por mim mesmo.

Este jogar de palavras à eternidade registra a dor que o esforço desperdiçado pode causar, hoje compreendo deveras; que esse esforço, como sinônimo de privação, é, como sempre afirmei, um antagonismo aos prazeres da vida; que as derrotas são muito mais sadias e compreensíveis quando denotam um trajeto sem força; e que a vitória é muito mais saborosa e até glorificante quando fruto de um caminho não esforçado (sem privações) cujo mérito é medido pelo dom, pela habilidade e pela vocação, e não pela dedicação forçada. Devemos, portanto sim, travar batalhas conosco, todavia sem esforço, para que a derrota intrínseca não cause incompreensão, e para gozarmos de uma vitória travada em um campo de batalha de prazer e não de privações que deixam cicatrizes de angústia.

Sinto hoje na pele e entranhas a minha primeira grande derrota, talvez não como sentido objetivo e comparativo perante os outros competidores, porém a derrota de mim contra mim; atesto o sentimento de descontentamento próprio, de expulsar quem me derrotou de mim, consoante Arnaldo Antunes vocaliza na música “fora de si”; hoje descobri que não podemos travar batalhas de privação, esforço e radicalidade quando os outros são apenas indireção, quando na verdade pelejamos diretamente conosco; despejo toda essa dor em palavras direcionadas a mim este mesmo sujeito o qual hoje me derrotou.

Assino, enfim, hoje um tratado de paz comigo, para que em nosso campo de batalha se travem batalhas de prazer e vocação, a fim de que quando me derrotar tenhamos um campo de batalha florido de alegrias e prazeres, e não de chagas e privações, espero que esse mim entenda; que como sujeitos de um mesmo eu lírico tenhamos sempre, a partir de hoje, a vitória e a derrota como paradoxos; que quando um é vitorioso o outro é derrotado; nunca assim somando, em batalhas de foro interno, a derrota. Hoje teremos sempre uma derrota vitoriosa, visto que em se tratando de lutas internas lutamos em um campo sem grandes esforços.