De o adulto para o adolescente e à criança

Como o feriado de nossa independência, ainda muito dependente, cairia numa sexta-feira, resolvi passar o fim de semana prolongado numa cidade vizinha.

Entretanto, como não me arrisco mais a dirigir para destinos distantes, resolvi pegar carona. Só não imaginava que, durante a viagem, o motorista me proporcionaria o material para essa crônica.

Sem muita cerimônia, apesar de não termos intimidade suficiente nem para ser seu carona, disse-me estar fazendo um tratamento psicológico. Acrescentou que a terapeuta justifica seus “grilos” motivados por grande desarmonia entre a criança e o adolescente que foi com o homem que é.

O método terapêutico empregado visa harmonizar esses diversos estados de nossa evolução mal resolvidos.

Enquanto dirigia narrou que, em algumas situações, seus “grilos” passaram a incomodar muito menos à medida que conversa com a criança e com o adolescente que com ele formam a tríade em desarmonia e desequilíbrio.

Frustrou-me a viagem ser muito curta e não ter tido tempo de estimulá-lo com perguntas, para que contasse muito mais sobre sua terapia.

Marcamos local e horário para a volta no Domingo.

Enquanto o Domingo não chegava, influenciado por romances, filmes e até mesmo pelas vidas minha e de alguns mais próximos, imaginei o que o adulto poderia dizer à criança e ao adolescente nessa busca do equilíbrio e da harmonia.

Ó criança medrosa, que habitas o mais íntimo de meu ser para de exagerar teus medos e de ficar apavorada em situações as mais diversas, pois essas situações não fazem mais parte do nosso dia a dia. Além disso, tens a mim com muito mais experiência para indicar-te o perigo, quando existir.

Ó criança que te sentiste rejeitada ao descobrires que és adotada, compreende que os pais são os que criam, que cuidam e que se responsabilizam. Não são os que geram. Mas, mesmos os geradores, mesmo que estranhos para ti,deves a oportunidade de viver.

Ó criança que te sentiste excluída pelas pilhérias e agressões como foste tratada, por seres diferente entende de uma vez por todas, que elas não tinham a mínima condição de aceitar tuas diferenças, pois imitavam os adultos. Além disso, foi a riqueza das tuas diferenças que me fez um adulto muito melhor.

Ó adolescente rebelde, que habitas o mais íntimo do meu ser para de exagerar nessa tua mania de reagir de forma irracional a ponto de te sentires um estranho nesse mundo real e coerente com nosso estágio de evolução. Não te peço resignação, mas aceitação e muito menos fantasia. Teus excessos de devaneios perturbam minha integração.

Ó adolescente cujas lembranças à mesa nas horas das refeições são de cobranças exageradamente autoritárias do pai. Lembranças que te condicionaram a desejo demais ansioso para fugir daquela situação. Ó adolescente sonhador para de instigar-me a devorar as refeições, motivado e condicionado por essas lembranças. Essa situação não existe mais. Temos tempo para aprendermos juntos a saborear os alimentos e a fazer das refeições um momento de paz e prazer

Ó adolescente viciado em sedução, impulsionado pelos instintos e pela revolução dos hormônios, para de exigir-me um comportamento compulsivo e fantasioso com relação às mulheres, associando-as sempre aos teus símbolos sexuais. Essa revolução hormonal já acabou. Desarma-te, vem comigo amar todas nela. Perguntas quem? Aquela que despertou em mim a capacidade de amar.

Ó adolescente excessivamente preocupado em não decepcionar a mãe e que por isso a acompanhava contrariado aos cultos religiosos, nos quais o único interesse era uma eventual paquera. Que, portanto, sentia-se irritado, ansioso e revoltado. Para de querer manter essa situação, pois tudo isso é passado. Pode ser que seja eu o responsável por não ter te transmitido nossa compreensão sobre o sagrado. O templo, é lugar de celebração, de festa, de gratidão e, principalmente de trabalhar, seja com orações, meditações, cânticos ou outras atividades para a evolução nossa, ainda esboços, quiçá projetos da imagem e semelhança divina.

Venha criança, venha adolescente deem-me as mãos e vamos cantar, dançar, orar para ver se conseguirmos reequilibrar-nos e vivermos melhor, bem como fazer a vida dos que conosco convivem bem mais feliz.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 05/11/2012
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