O PRIVILÉGIO DE SER AVÔ E A RESPONSABILIDADE DE SER NETO

Neste último fim de semana prolongado viajei para conhecer meu primeiro neto, filho do meu primogênito, que mora a 700 Km de distância. Ele já está com quase 4 meses, mas só agora consegui ir vê-lo pessoalmente. Já o conhecia por fotos e pela webcam e já o amava desde antes de nascer, mas nada se compara à maravilhosa experiência de tê-lo nos braços, sentir seu cheirinho, fazê-lo dar um sorriso, ouvi-lo balbuciando, ouvir seu chorinho, ver suas reações diante dos acontecimentos à sua volta e principalmente tocar sua pele macia e sentir o calor do seu corpinho junto ao meu, parece que ali formou-se o elo de ligação entre nós. Foi emocionante ver todo o amor, carinho e cuidado que meu filho e minha nora dispensam à ele. Ele tornou-se o centro de suas vidas. Ver meu filho assim, tão envolvido com o seu filho me deu a deliciosa sensação de que, de certa forma, a minha vida está se renovando através deles. Ser pai foi a maior bênção que recebi de Deus para minha passagem por esta curta vida aqui e ao ser avô sinto que esta bênção está sendo prolongada. Ver o filho do meu filho foi indescritível e saber que em breve ouvirei de seus lábios o doce chamado de "vovô" será ainda mais incrível. Eu nunca tinha pensado nisso, até agora. Eu sabia que meus filhos um dia teriam os seus filhos e que estes seriam meus netos, uma consequência natural da vida, mas ao ver isso se materializar, se tornar real e palpável, com toda a carga emocional que isso envolve foi maravilhoso. Minha mente viaja e imagino muitas cenas de nós dois juntos num futuro próximo, ele me chamando de vovô e eu o abraçando e lhe dando lições de vida. Apesar da distância física que existe entre nós, farei de tudo para ser um vovô presente pois descobri que os avós são muito importantes em nossa vida. Na hora da despedida fiquei com uma sensação de tristeza por saber que ao voltar a vê-lo ele já estará diferente, mas meu conforto é que ele será sempre meu neto. Saber que ele está cercado de amor e carinho pelos avós maternos também me tranquiliza.

Ao sair para a viajem de volta passei pelo cemitério onde estão sepultados os meus avós, pais de minha mãe, com quem convivi muito pouco, pois morávamos igualmente longe. Eu já havia visitado os túmulos deles antes, mas dessa vez foi diferente. Parado ali, sozinho em frente aos túmulos, vendo suas fotos, emocionei-me e cheguei às lágrimas sem saber ao certo o motivo, talvez tenha sido a sensação de que eu poderia ter dado mais amor e atenção à eles. Quando criança, lembro-me que todos os anos, nas férias, íamos para o sítio deles e passávamos dias maravilhosos lá, comendo as delícias que minha avó preparava, principalmente no café da manhã, que era um verdadeiro banquete. Minha avó era uma mulher forte, que além de trabalhar na roça dava conta da casa e nunca a vi reclamar de nossa presença lá, apesar da bagunça que fazíamos. Meu avô era muito calmo e carinhoso. Lembro-me que ele tinha um chapéu que eu adorava e em todas as férias, quando lá chegava, uma das primeiras coisas que eu fazia era pegar o chapéu dele emprestado e ele se divertia com aquilo. Depois que cresci não os visitei muito e quando me mudei para perto deles meu avô já era falecido e minha avó faleceu dias depois. Aquilo me entristeceu muito. Ao menos tive a felicidade de morar mais perto dos meus avós paternos. Minha avó era uma mulher forte também, tanto que aos 90 e poucos anos ainda viajava longas distâncias de ônibus para visitar filhos e netos. Cozinhava maravilhosamente bem e ainda hoje o tempero do seu feijão tenta ser imitado, inclusive por mim, mas nunca igualado. Meu avô era bravo, de pouca conversa, mas lembro-me que quando eu era criança lambuzava seus sapatos com graxa e passava a escova e ele me dava um dinheirinho e eu ia correndo comprar sorvete. Às vezes ele levava os netos para seu sítio também.

Hoje estou tendo uma visão diferente da figura dos avós e sempre digo para meus filhos telefonarem para eles e dar-lhes atenção, mesmo morando longe. Erramos muito em não incluirmos os avós com parte de nossa vida porque eles se sentem parte dela, e na verdade o são. Muitas vezes erramos também como pais por não incluirmos os avós como parte da vida de nossos filhos. Não sei quantos netos terei, mas sei que já sou avô e quero muito fazer parte da vida do netinho que já tenho e dos que ainda poderão vir. Sou um avô diferente porque também estou tendo a felicidade de ser pai de uma bebezinha de 1 ano e 5 meses e essa convivência com ela tem me tornado muito mais sensível. Ser avô é um privilégio e ser neto tem uma grande responsabilidade, a responsabilidade de retribuir o amor que recebemos gratuitamente.

Ivan De Lima
Enviado por Ivan De Lima em 07/11/2012
Código do texto: T3973817
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