*Emoções*_" Rescaldo"

Emoções

Rescaldo

Sempre, ao findar de cada ano, costumo refletir, sozinha comigo mesma, meus acontecimentos, minhas alegrias, meus lamentos, minhas esperanças, meus pensamentos. Chamo isso rescaldo da minha consciência. Imponho isso a mim mesma, como uma obrigação, nem tanto para me absolver dos delitos cometidos, mas pelo simples fato de me conhecer melhor através do passar dos anos. Isso me traz sensações de dever cumprido e, as vêzes, de resgate de dívidas passadas. É uma espécie de peneira, onde o positivo passa através da tela e o negativo, amontoa-se na sua superfície.

Sou muito severa nos julgamentos, porque se o sou na vida real, nada melhor que sê-lo dentro do que me proponho realizar. Fui justa nas minhas decisões? Fui sincera nas minhas amizades? Fui honesta comigo mesma, nas minhas atitudes? Dei carinho a quem mereceu? Dei amor a quem me feriu? Dei conselhos a quem precisou? Como foram esses conselhos? Foram palavras de estímulo ou foram de recriminações? Fiz o certo ou o errado?

Com o respeito que tenho a mim mesma, tenho que ser sincera nestas respostas, nesses julgamentos, pois minha consciência jamais me permitiria ter paz se não fossem cumpridas as lógicas, os dogmas de virtude, honestidade, coerência, retidão de carater, minha vida, enfim.

Chego até a lutar comigo mesma, para relaxar um pouco tais exigências, mas o que me embala e seduz é justamente a enérgica atitude que tomo sempre, como juíza das pequenas causas de mim mesma, que me considero e que me transformo nestas horas.

Fico sempre a me imaginar uma pessoa diferente das demais. Não me situo, então como uma pessoa comum, porque não vejo isso acontecer com freqüência e fico assim a esconder essa maneira de ser diferente, nesta época de tantas sentidas tranformações. Mas não perco a serenidade dessas observações, mesmo que esteja em desuso e obsoleta, neste mundo moderno. Acho que seja uma vontade apenas de me sentir melhor na minha existência, porque quando tiver que prestar contas ao Criador, irei de peito aberto, olhando nos olhos, dizendo verdades e não tentando esconder, na vergonha atos não honestos, não verdadeiros em tais delitos.

Continuando minhas observações, noto profunda e tristemente o que meus semelhantes fizeram contra mim. Isso não é mister a que me proponho conceber agora, isso é outra esfera, que não me pertence aprofundar, ficando estas atitudes à flor de todo julgamento, vendo apenas o todo como base para poder me posicionar. A cada um cabe seu próprio exame de consciência e seus próprios princípios de dignidade, honestidade, inerentes a cada um. Não sou tãopouco a dona da verdade, pois há coisas que julgo sérias e outras pessoas a julgam sofríveis ou nulas até. Sou apenas um ser humano, meu eu como ser e como humana que sou. Isso é o bastante para mim nessa cadeia de conclusões, a que me submeto todo fim de ano.

Eu me proponho sempre estar de bem comigo mesma, em horas de alegria e também de tristeza. As vêzes, nos julgamentos que faço, sem pensar, incorro em erros de pré julgamentos, feitos apressadamente, como todo ser humano o faz, mas logo em seguida, apresso-me a pedir desculpas, tentando me corrigir, pois o pior que existe é lançarmos dúvidas e enxovalharmos nossos irmãos com coisas que ficam só na nossa cabeça. O saber pedir desculpas é uma elevação espiritual, uma dignidade que nos faz sermos superiores no nosso reino animal. Não me envergonho quando me humilho ao pedir desculpas, isso me faz gente de elevada formação.

Fazermos chorar nossos semelhantes com palavras ásperas e desconcertantes? Isso é a maior covardia que deixamos nos acontecer. Ninguém tem o direito de atingir, ferir nossos irmãos, nossos companheiros. E, assim, de item em item, vou tentando me corrigir das falhas havidas. Faço de maneira franca comigo mesma, para a paz do meu coração e tranqüilidade da minha alma, dentro da minha seriedade e responsnsabilidade.

Devemos semear à mão cheia, amor, amizade, saudade, esperança, felicidade, sentidos sentimentos que possam enaltecer nossas almas, dando cunhos de diferentes significações de qualidades. Sejamos nossos parceiros mesmos, nossos próprios irmãos, nossos próprios companheiros, para podermos aqüilatar nossas determinações, nossos propósitos, nossa eternidade como sementes de altíssima fertilidade e dignidade...

Que Deus, Nosso Senhor, nos ofereça sempre Sua Mão de Pai para podermos atingir nossos objetivos e sermos partes D'Êle mesmo...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2004

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 02/08/2005
Reeditado em 02/08/2005
Código do texto: T39755