A VIDA E SUAS INIMAGINÁVEIS TRANSIÇÕES.

Os ensejos de hoje me levaram a pensar nesse fato, não é de agora que esse assunto me chama a atenção.

E ao ler uma belíssima crônica titulada como - Lojinha de Internete, autoria do recantista Luiz Guerra www.recantodasletras.com.br/autores/luizguerra (creio que seja este o endereço). Tornou-se ainda mais exacerba a vontade de escrever sobre o tema.

Desenvolvem-se amiúde ao redor do Homem e em todos os momentos as mudanças – sendo essas precedentes à vida material, e transcendentes a esta (que me perdoem os que divergem da minha concepção sobre a vida). Algumas mudanças são gritantes e outras passam despercebidas ou discretamente se fazem notar. Guardando o ser humano, em si mesmo, todas as faculdades, entenda-se aqui, como as capacidades naturais ou adquiridas, as tendências, o direito e a liberdade de agir, em suma tem livre arbítrio o Homem para ser e fazer ao seu gosto – Claro! Que as regras se encontram, também, por aí e por todos os lados, transgredindo-as, em conseqüência será o transgressor o único responsável por seus atos. Não obstante os seres humanos são ao mesmo tempo agentes e pacientes. E são levados por suas ações interativas aos processos de transições. Interagem, e, se são susceptíveis as mudanças por conseguinte fazem parte do sistema chamado Vida - Óbvio! Exclamo, somente para aportar-me ao tema -Ressaltando que para alguns, este é um sistema que tem a sua fase final igualmente semelhante à fase inicial.

E, é neste ponto onde posso encaixar os exemplos encontrados tanto no escrito de Luiz Guerra como na vida cotidiana de dois seres que me surpreendem com por suas vidas – Minha vó Tereza e meu pai.

Luiz inicia sua bem humorada crônica dizendo: “Já não me olham com a simpatia dos primeiros tempos na lojinha de internete” (...) Lá pelas tantas entrelinhas declara: “Nesse meio tempo, uma garotada bonita e impaciente já invadiu a entrada do prédio e começa a espichar uma grande fila na calçada, olhando para mim com especiosa neutralidade. Há um crescente burburinho entre elas e eles, muita voz na muda, não entendo absolutamente nada do que estão tramando ou apenas contando uns aos outros (...) Nos velhos tempos eu tinha o hábito de rosnar nessas horas, mas agora não dá mais, é prejuízo certo. (...) Alvo da expectativa deles, que me querem longe”. Finalizando sua bela crônica desta maneira: “À saída da loja, uma salva de palmas irrompe de todos os lados, celebrando minha rendição“.

Referente às nobres figuras, já salientadas, destas conheço bem suas historias, as posições ocupadas em suas rotinas anteriores e nas atuais. Seus prestígios, relevos e distinções somente no restrito seio da família se fizeram visíveis – Meu pai, quando ainda tinha ativa a sua vida profissional, era grande o seu entusiasmo ao falar o quanto era bem apreciado e requisitados pelas suas chefias em virtude de suas habilidades profissionais. Conta que aos 12 anos de idade, para aprender o ofício de motorista em troca ele carregava e descarregava o caminhão, que seu mestre guiava, imposição feita pelo mestre do ofício e pelo dono do caminhão, e assim carregando e descarregando babaçu e conduzindo pelas estradas do maranhão, em sua maioria de chão na época, porém, em condições melhores que as asfaltadas de hoje, referindo-se ao estado como essas se encontram, foi desse maneira que ele se tornou motorista de caminhão. Minha vó desde o casamento aos 13 anos quis apenas ser dona de casa.

Hoje essas jóias raras, para mim, além de me surpreenderem me fazem refletir quando os observo viajo no tempo, vendo-os, outra vez, o jeito como eram e como se encontram – Meu pai, embora fosse humilde a profissão, sempre foi muito dedicado ao trabalho, depois de anos de labuta aposentou-se por invalidez... Parca é sua aposentadoria e grandes suas recordações no tange às suas atribuições. As lembranças de suas atividades e de seus colegas e amigos são seus temas favoritos – Devido a sua dedicação ao trabalho não se interava muito dos assuntos domésticos, ficando tudo a cargo de minha, que se queixava, entretanto, justificava-se ele sempre dizendo que o seu papel como homem era botar dinheiro em casa. Por uma dessas eventualidades que mudam completamente o curso da vida deixa os terreiros das obras e assume o leme da casa.

Chegando aos dias atuais encontra-se ele com 66 anos recém completados.

No iniciozinho do ano passado, nem bem atravesso a soleira da porta de minha casa meu pai vem ao meu encontro todo feliz, traz nos braços o meu nenê, e no rosto um sorriso cheio de satisfação, alegre pelo seu feito me pergunta – “Está, vendo?” Percebendo que eu não divisava o objeto de sua indagação, pois nem o indicou e tampouco me disse o que eu deveria notar, insiste - “Não viu ainda?” Eu comecei a ficar ansiosa – Não pai...! Então ele apontou para o bumbum do bebê e continuou - “Não precisa mais deixar as fraldas-plásticas preparadas, por que hoje eu aprendi como se faz para utilizar as descartáveis, já dou conta de pôr no JC”. Juro que me comovi! Meu pai que nunca participou nem das reuniões escolares dos filhos; aos 65 anos, feliz por ter aprendido a pôr fralda descartável no neto. Tenho, não só por esse motivo, um carinho e apreço muito grande por ele. Em mais uma inversão de papéis é ele quem atualmente está a cuidar de sua mãe, vó Tereza, a conduz pela mão ao médico, lhe dar os medicamentos na boca e às vezes a acompanha até o banheiro.

Não somente por causa desses dois exemplos, mas, pela a observação das sucessões dos movimentos da vida e de vários personagens que desfilam diante dos meus olhos e, inclusive, por minhas próprias atitudes assenta-me a idéia de que nalguns momentos ao rosnar, como fazia o Guerra, garante-se o destaque. Que o homem pode ser, ainda mais, bem apreciado por sua capacidade de aprendizado ou por sua dedicação filial aos 66 anos de vida. Não obstante os imperativos da vontade a vida nos leva as mais inimagináveis transições.

E que somente nos damos conta das delas, as transições, quando paramos para observar as mudanças operadas ao nosso redor, e, ou nos outros nos constrangendo ao câmbio dos hábitos e valores ou a um novo aprendizado. Mais efetivamente nos compelindo à transformação do jeito de ser – atendendo ao ajustamento à lei do Progresso.