O ritmo do tempo

O ponteiro trabalha incansável, a areia cai da ampulheta, o sangue jorra pela ferida aberta e o tempo só acumula, passar? Não passa. Segundos, horas e até da eternidade já perdi a noção. Cada gesto meu tem um único objetivo: minha alma cruzar com a tua. Começa quando a chaleira apita de manhã até a oração que faço para o teu anjo da guarda antes de dormir. Cada passo meu caminha em tua direção.

Um anjo bateu em minha porta, mesmo com medo abri. Entrou, revirou as estantes e sentou no sofá. Eu recuei, mas o anjo me fitou o olhar e mesmo sem dizer nada sua presença devolveu vida a margarida.O anjo tocou meu rosto me olhou com nostalgia dizendo : " É hora de crescer, de viver, de renascer." O vento que entrava pela janela calou-se, o anjo soprou a margarida ( e foi naquele momento que eu percebi que ela nunca mais morreria).

Não vou mentir a ferida continua aberta, o sangue ainda jorra. Mas o sol lá fora insiste em me arrancar sorrisos e me fazer dançar. O que me incomoda mesmo é essa dorzinha aqui dentro que lateja ao ritmo do ponteiro, me fazendo agir em função do encontro de nossas almas a cada instante. Talvez em algum momento do dia você se sinta abraçado por mim, talvez naquele momento que eu canto seu nome três vezes e dou um sorriso bobo.