O AVIÃO SELVAGEM

Na história suja do contrabando podemos extrair muitas coisas que passeiam do hilário ao sepulcral, e da verdade insofismável a mentira quase aparente. Há muita verdade mentirosa, mas também há muita lenda verdadeira.

O que vou descrever, não fosse presenciado por mim, jamais acreditaria se fosse contado por alguém. Você não vai acreditar? Não tem importância não, eu entendo.

Apresento a Igreja, mas não digo a qual paróquia ela pertence.

Era um lugarejo simples e bucólico, plantado e deslizando ao pé de uma pequena elevação, banhado pelo rio que solitário lhe fazia escorrendo e úmida companhia.

O rio caudaloso surge por detrás da elevação e morre numa curva mais adiante.

Entre o rio e a elevação, escondido do povoado, deitava comprido um tosco campo de aviação.

As máquinas voadoras, que se aventuravam deslizar por este grotesco corredor de grama e terra, faziam antes um vôo de alerta, por cima do pequeno povoado, para que alguém fosse até lá espantar os famintos animais que devoravam a pista, e receber os visitantes.

Isto acontecia lá de quando em quando, e quando acontecia era um diz que diz danado na cidade.

Um dia o delegado da localidade recebeu um telegrama, através do correio, da polícia da capital no qual vinha uma informação de que havia indícios do uso da pista do aeroporto de forma criminosa; A pista estava servindo de entreposto da rota de contrabando. No telegrama era solicitado a averiguação e as providências cabíveis para coibir tal indecência.

O delegado contratou um espião. Era um molecão, sem família, desempregado que tinha por objetivo ficar de tocaia, no alto da elevação para quando a máquina voadora chegasse fizesse as anotações da hora da chegada, prefixo e outros eventuais movimentos ao derredor.

O moleque ficou plantado, dia e noite numa barraca só observando. A comida era ali trazida pela delegacia e suas necessidade físicas eram aliviadas nas moitas que por ali existiam.

O pobre diabo permaneceu ali por quinze dias sem banho, cagando, mijando e comendo de forma cruel para o bem dos bons costumes. Convenhamos que era uma situação degradante para um espião.

Finalmente a coisa iria acontecer. O espião ficou feliz e atento deixava momentaneamente a moita que ocupava.

O dia já estava anunciando que iria descansar, quando no horizonte lá distante, um teco teco, deu umas voltas e desapareceu. Um carro chegou até a pista logo em seguida, e dois homens desceram e pareciam impacientes aguardando alguma coisa. O teco teco chegou, o carro se aproximou, e os dois mais o piloto travaram um rápido papo, entregaram alguma coisa ao piloto e descarregaram do avião algumas caixas colocando no carro. Imediatamente o avião levantou vôo e o carro pegou rumo da capital.

Tudo fora anotado com propriedade pelo espião.

O delegado telegrafou as informações para polícia da capital.

Os dias transcorreram sem novidades até que um outro telegrama urgente dava todas as informações para o delegado armar uma emboscada e prender os contrabandistas.

Discutiu-se o plano em segredo de estado, e armaram uma estratégia para a captura.

O avião chegaria no meio da tarde.

O assunto foi discutido em segredo, mas o delegado ficou sabendo que os malditos fofoqueiros já tinham se encarregado de divulgar a notícia. O povo estava se aprontando para a grande festa quando o delegado, de porta em porta, avisou: "Se alguém saísse de casa sairia preso". Ignorei a ordem e saí disfarçadamente e fui me esconder lá no alto para poder observar tudo.

Os quatro policiais mais o delegado chegaram disfarçados de alface, ou de moita e rapidamente camuflaram a viatura.

Ficaram amoitados, fortemente armados, impacientemente aguardando o contrabando chegar.

Chegou um carro com dois indivíduos suspeitos.

Nada poderia, por enquanto, se fazer visto que a ação criminosa ainda não estava em cena.

O avião lá adiante apontou e iniciou o procedimento de aterrissagem.

Eis que quando o avião já próximo de encostar o rodado na pista acontece alguma coisa mirabolante, indescritível, cretino mesmo.

Eu acho que quando o piloto vislumbrou aquilo lá na pista prometeu ao deus dos contrabandos que iria abandonar esta vida de crime.

O avião já estava preparado para suavemente aterrissar quando os quatro policiais e o delegado saindo das moitas, de arma em punho, no meio da pista, gritando voz de prisão.

Eu acho que o avião era completamente surdo, pois não atendeu a ordem de prisão, batendo as asas em retirada quase matando os cinco policiais que tiveram que se jogar no chão para não serem atropelados.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 12/11/2012
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