Imagem de Arnaldo Agria Huss

DECK DO PESCADOR - RENASCE UMA VIDA


Escrevi este texto originalmente em 13 de dezembro de 2008. Em 23 de novembro de 2009 fiz a primeira e única revisão, colocando-o no ar três dias após, em outro site onde também publico alguns de meus textos. Decidi republicá-lo agora no Recanto das Letras, pois esse deck é um local que até hoje tem um significado muito especial em minha vida, ou na vida em que renasci. Espero que apreciem.
 
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Quem me conhece ou tem por hábito ler meus textos sabe que há alguns anos passei por um momento delicado de saúde. Fiz estágio forçado de um dia e meio na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), tempo esse que se transformou numa eternidade, pois se perde a noção do tempo. Quem já esteve lá é capaz de bem avaliar o que digo.
 
Naquela ocasião, ao sair do hospital numa sexta-feira pela manhã, após um total de cinco dias de internação, sentia-me totalmente combalido, tanto física quanto emocionalmente. Muito magro, as feições abatidas pelo medo e pelo cansaço, cabeça em parafuso, ainda tentando entender o que havia acontecido comigo naquela noite do domingo anterior.
 
Até hoje isso me incomoda e faz com que passe por momentos desagradáveis, principalmente quando sinto alguma alteração física em meu organismo. Os amigos pegam pesado, dizendo que preciso esquecer. Concordo totalmente com eles. Só que não é fácil e nem vou tentar explicar, porque não saberia como.
 
Em outro domingo, nove dias após ter deixado o hospital, compareci a um almoço comemorativo do aniversário de noventa anos de vida de uma senhorinha muito simpática, pela qual tenho grande admiração. Continuava magro e cheguei até a discutir com quem filmava o evento, pois este insistia em fazer muitas tomadas de mim como se estivesse pensando: “Esse cara vai morrer logo, preciso registrar seus últimos momentos”. Coisas da minha cabeça, mas que mostrava o quanto eu ainda estava abalado. Deram-me umas fotos daquele almoço, que tive o prazer de rasgar e jogar no lixo. Não queria ter comigo nada que me lembrasse aquela época.
 
Ao sairmos do almoço fomos dar um passeio pela orla marítima e acabamos parando num lugar que havia sido inaugurado naquele mês e que ainda não conhecia. O “Deck do Pescador”, espaço destinado principalmente àqueles que dedicam horas de seu lazer à atividade da pesca sem compromisso. O deck avança alguns metros pelo mar, o que coloca os pescadores um pouco mais próximos dos peixes de primeira linha, que, aliás, são poucos no local. O que mais se pesca por ali é o baiacu, aquele que você coça a barriga e ele incha. Não presta pra nada e tem pescador que, de tanta raiva, acaba atirando o pobre do peixe contra as pedras quando ainda está inchado. Uma cena dantesca.
 
O que ocorreu comigo em relação ao deck do pescador foi empatia à primeira vista. Talvez pela fragilidade em que me encontrava, fiquei encantado com tudo aquilo, e foi lá que, pela primeira vez depois do acontecido, tive a certeza de que iria renascer. Lembro-me que, naquela minha primeira visita, abracei fortemente as pessoas que estavam comigo e fiquei muito emocionado quando senti a recíproca dos abraços e as palavras positivas dirigidas a mim. Um momento especial, quando agradeci a Ele por ainda estar vivo e também por poder abraçar todos aqueles que me acompanhavam.
 
Lá se vão alguns anos depois desse primeiro contato com aquele local. E durante esse tempo, olhando aquele mar maravilhoso, é lá que sempre vou buscar a paz quando necessito, o relaxamento nos momentos de tensão, a energia quando sinto que está fraca e o amor interior que alimenta a minha vida.
        
 
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