São Paulo: Zona de Guerra

São Paulo: Zona de Guerra

Jorge Linhaça

Ainda nos tempos do Governador Mário Covas, agentes penitenciários do extinto complexo penitenciário do Carindiru e outras unidades prisionais, davam conta ( ou ao menos tentavam) às autoridades de que dentro do sistema prisional organizava-se um movimento acentuado de criação de facções criminosas. Já não se tratava de gangues internas como os "serpentes negras", tudo indicava algo muito maior e que haveria de transcender os muros das penitenciárias.

A resposta, mista de irresponsabilidade e pilhéria foi :

Quem estiver com medo que peça para sair...

Os anos passaram com mais avisos e a permanente incredulidade e arrogância dos governantes que se seguiram.

A Febem passou a ser contaminada com a Ala Jovem das facções.

Veio a mega-rebelião que "virou" quase todas as unidades prisionais ao mesmo tempo, o embate entre as facções ficou claro...CDL, CRBC e PCC travaram uma guerra pelo controle dos presídios.

CDL e CRBC foram praticamente desintegrados e alguns líderes foram mortos de forma no mínimo suspeitas ao serem transferidos para presídios dominados pelos rivais.

Mesmo com a mega-rebelião, pouco foi feito para sanar ou sanear o problema...transferiram alguns líderes para presídios de "segurança máxima" mas isso não impede que advogados ou familiares levem recados para fora do presídio, mantendo assim o organograma do crime ativo e as células funcionando.

A facção criminosa paulista não é uma mera quadrilha com meia dúzia de cabeças, parece mais uma hidra de lerna e, a cada cabeça cortada duas novas brotam em seu lugar.

O resultado é a sensação de filme de faroeste nas ruas paulistanas e da grande São Paulo.

O atual massacre de policiais ( civís e militares) e agentes penitenciários é como o remake de um filme antigo com mais cenas de ação e terror.

Não existe apenas um motivo para o caos na segurança pública, mas um deles , além do já descrito acima, chama bastante a atenção.

A polícia militar do Estado de São Paulo, vem, ao longo do tempo, transformando-se em uma tropa de elite dos governates paulistas para atender ações extra crime.

Greve dos professores? PM neles...

Invasão de prédios abandonados? PM neles...

Reintegração de posse ainda em discussão? PM neles...

A mobilização ocorrida para a reintegração do Pinheirinho foi uma verdadeira operação de guerra vergonhosa, liderada pelo governador.

No entanto, é importante entender que uma coisa é atacar trabalhadores desarmados, com escudos de plástico, capacetes de moto, e cabos de vassoura, um verdadeiro exército de Brancaleone, incapazes de fazer realmente frente ao poder bélico do estado.

Outra completamente diferente, é enfrentar guerrilheiros fortemente armados que atacam pontualmente e de maneira inesperada.

Talvez se a polícia fosse menos convocada para bater em trabalhadores e melhor equipada para combater o crime e o quadro hoje não fosse este.

A arrogância recorrente de governadores e secretários de segurança, impede que assumam que existe um "poder oculto" capaz de rivalizar com a polícia.

Tivessem Covas e Cia, não tentado tapar o sol com a peneira e as facções teriam sido desatirculadas em seu nascedouro. Mas o sentimento de anipotência presente nesses senhores foi permitindo que as cobras ganhassem asas.

Há que critique a ação de alguns policiais isolados ou pequenos grupos de extermínio que tem partido para o revide aos ataques orquestrados pelos criminosos.

Por outro lado, em uma situação em que você sai de casa e não sabe se vai voltar, vítima de alguma emboscada, os nervos acabam ficando à flor da pele e entre morrer e matar a escolha acaba sendo pela auto-preservação.

Não estou aqui justificando chacinas ou coisa parecida, trata-se apenas de compreender o estado de espírito dos defensores da lei.

Com um código penal ridículo como o nosso, onde os bandidos são soltos e liberados , às vezes antes que os policiais terminem seus relatórios, é natural que a insegurança ronde esses pais de família.

Podemos até dizer que o Brasil é um verdadeiro paraíso para os criminosos. Quando acabam presos, tem regalias que muitos cidadãos não tem: 4 refeições por dia, televisão nas celas, tratamento médico e odontológico, escola na unidade prisional, trabalho, áreas de lazer, visitas íntimas, direito de receber alimentação, material de higiene, roupas e etc de parentes e amigos.

Enfim...para alguns é bem mais negócio estar preso que na rua.

Não sou dos que torcem para o quanto pior melhor, seria imbecilidade, minha torcida é para que o Sr Geraldinho acorde para a vida, assuma a sua parcela de responsabilidade pelo caos atual e tome medidas efetivas para combater o crime organizado , assim como as toma para atender seus interesses pessoais e políticos contra a população.

Vende-se a imagem de que a polícia deve ser legalista para manter o estado democrático de direito...no entanto é preciso decidir qual seja esse direito...até agora só se fala do "direito dos manos".

Bandido neste país recebe muito mais proteção das organizações dos direitos humanos do que o cidadão comum. Quanto mais bem relacionado ou endinheirado maiores as probabilidades de sair impune.

Gostaria de saber se algum desses defensores dos "direitos dos manos " está dando apoio às famílias dos policiais mortos.

Salvador, 12 de novembro de 2012