ENFADONHA MESMICE

- Me fale da sua vida - ele pediu - não soube o que responder...

Só então me dei conta, de que minha vida está mesmo sem cor, sem sal...Uma vida sem vida !

Como posso. ter a posse do que não me pertence ?

Desde à muito tempo eu me doei, me entreguei as consequências do dia após dia. Me abandonei sobre meu próprio eixo sem forças, sem vontade própria. Em razão de razões que hoje nem me lembro ao certo, mais elas eram tão prementes tao definitivas e verdadeiras que eu não tinha escolha. Estou rebuscando nas gavetas, meu escritos, meus sentidos, meus desejos indizíveis; qualquer lembrança por vaga que seja e que me remeta a noites em claro, alma despedaçada e sem projeção de futuro. Noites e madrugadas em claro ao som de melodias capturadas nas ondas médias do meu rádio.

Foram elas noites e madrugadas de solidão e desesperança angustiantes, por tantas desejei por fim de maneira definitiva na minha existência neste plano. Olhava a minha volta mirando rostos delicados que alheios à minha agonia ressonavam, sem perceber que minhas esperanças digladiavam, minhas forças se esvaiam dentro de mim. Uma escrita em grafite em papel amarfanhado me debatia entre desabafo e despedida até que o flagelo da impotência sobrepujou minha resistência e adormeci.

A chegada da manhã, e a necessidade de atender as necessidades, daquelas criaturinhas, que a mim foram emprestadas para amar e ser amada incondicionalmente me davam forças, e mais um dia pra ser conquistado ou ao menos superado de forma que fosse. Ocultado em lugar seguro aquelas anotações amarfanhadas...O tempo passava e se acumulava tão somente expectativas, arremedos de atitudes.

Eram causas e situações que se sobrepunham orquestradas em nome de uma necessidade de atender, minimamente o conforto das minhas verdadeiras razões de viver... Meus filhos !

Cartas, bilhetes amarfanhados, dolorosos suspiros inseridos entre as estrofes melodramáticas das melodias sertanejas, que falava de amor de modo especial, como ainda falam.

Amores desfeitos, carências, sofreguidão. saudades... Era tudo o que eu tinha pra sentir e eu me refastelava como nada mais me erguesse. Arrastando correntes fingindo que minha vida estava linda, mostrava uma audácia mordaz, uma intrepidez, numa couraça de elegância e esmero na aparência que a ninguém, faria supor meu interior desarranjado destruído.

Os dias, meses e anos se passaram e acumularam-se; aqueles bilhetes amarfanhados, as mensagens cifradas nas musicas sertanejas, a intrepidez da postura, deixaram suas marcas indeléveis e eu com elas prossegui. Revejo ainda hoje as mesmas carências, minha caricatura e minha enfadonha mesmice.

Cida Cortes
Enviado por Cida Cortes em 13/11/2012
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