A arte de viver.

Aa luzes se apagam, o teatro se esvazia lentamente e atrás do palco ele retira a maquiagem, enquanto ainda sente seu coração vivo após mais um espetáculo, são raros os momentos da semana onde Jorge pode ser ele mesmo, longe do nó da gravata, da rotina cansativa indo para o trabalho esmagado em menos de um metro quadrado dentro de um transporte público.

Assim ele segue conciliando necessidade e sonho passa oito horas por dia, cinco vezes por semana atrás de uma mesa cumprindo rotinas administrativas e comerciais, trocando as máscaras a cada dia pensando até quando vai conseguir suportar tantos assuntos vazios e sorriso que estampam contratos, seu coração se pergunta até quando ele vai suportar. As meias tendo de combinar com a calça e os sapatos, a camisa impecável e seu sorriso que lá pelas 15:00 horas já pede um descanso.

Sua mente precisa voar por alguns instantes, Jorge olha para sua chefa e diz que vai se ausentar por vinte minutos, se sentia em um regime militar precisava de autorização até para ir ao banheiro, com certeza os adultos que inventaram o trabalho esqueceram suas crianças trancadas a sete chaves e seguiram tentando controlar o tempo, criando regras, e nem se percebem que o máximo que fazem é correr atrás do rabo feito cães, o tempo não se controla, mas quem naquela empresa iria dar-lhe ouvido?

Se tranca no Box do banheiro e tira do bolso seu bloco de notas e uma caneta! Ufa... Um primeiro sorriso espontâneo, a paz, o encontro consigo longe de toda aquela utopia cotidiana. Ali em seu mundo sentia-se livre, longe da cobrança alheia, ele podia ser o que quiser. A liberdade realmente estava em atos simples! Simples como a arte, como o amor e a vida, mas pena que alguns sempre tentam complicar. Ele anota em seu bloco percepções diárias ao esperar o ônibus todo dia torcendo para que a garota dos olhos brilhantes passe por ele, sorri levemente e morde o lábio e se percebe gostando de uma garota que nem sabe o nome, suas sensações são únicas e quem poderia julgá-lo? O coração não obedece a ordens apenas segue seu próprio ritmo.

Enrola o quanto pode, retorna a sua mesa, pelo corredor cumprimenta alguns gerentes e diretores enquanto pega um chocolate quente na máquina; segue fazendo seu trabalho no automático tentando esquecer-se das horas e quando o relógio marca 18:00 horas ele se despede de todos e parti para o centro da cidade.

Adentra seu santuário retira os sapatos, pisa no palco e sente seu coração pulsando forte! A arte alimenta sua lama, alimenta seu corpo e seus dias. Jorge se dirige para o camarim, tira suas máscaras e fica ali nu frente a frente consigo mesmo, é a melhor sensação do mundo! A campainha toca e ele então dá vasão a seus personagens, ali em cima do palco a única regra é se permitir e ele então sorri, chora, ama e é amado!

As cortinas se fecham e o teatro se esvazia lentamente, Jorge sente seu coração bater forte, sente-se mais vivo, era bom poder ser ele. As luzes se apagam por completo e mais um capítulo da sua vida se escreve.

Kemii Athon
Enviado por Kemii Athon em 14/11/2012
Código do texto: T3985596
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