Como esculhambar um projeto

(crônica que utiliza linguagem irônica)

Em qualquer bom curso de Gestão de Projetos, aprende-se que um projeto deve ser bem planejado, bem executado e bem controlado. A norma padrão de boas práticas de gestão de projetos diz que se deve avaliar a necessidade de o projeto ser executado, analisar a viabilidade de sua execução, registrar o planejamento de suas fases e, então, colocá-lo em prática. Nessa fase, a norma indica que é necessário gerenciar todos os aspectos que influenciam o andamento do projeto, o que inclui o escopo, o tempo, os custos, a qualidade, as pessoas, a comunicação, os riscos, e, ainda, a integração de tudo isso.

Mas a Sabedoria Prática das pessoas que gerenciam projetos com o conhecimento da Escola da Vida, sem todo esse treinamento teórico desnecessário, oferece diretrizes muito mais modernas:

• Não é preciso avaliar a necessidade nem a viabilidade de se realizar um projeto. Afinal, eles sempre são necessários e sempre são viáveis, se você é um gerente de projetos e quer justificar o seu emprego.

• Não é preciso registrar planejamento algum. Afinal, tudo sempre sai diferente do esperado. Mas, para “fazer bonito” na hora da venda, é recomendável apresentar uma proposta de trabalho que indique a conclusão do projeto em um tempo curto, com baixo custo e ótima qualidade. Vale a pena usar cores e números alegres neste documento.

• Não é necessário gerenciar o escopo do projeto. Afinal, todo mundo sabe o que é que deve ser feito, basta ir fazendo e listando as entregas realizadas. Caso não seja possível realizar algum item, basta não incluí-lo na lista de itens entregues, e ninguém vai perceber.

• Não é preciso gerenciar o tempo do projeto. Afinal, qualquer prazo estimado vai estourar de uma maneira ou de outra. Basta ir tocando o projeto e ir ampliando aquele cronograma fictício que você apresentou lá na hora da venda. Mas não se deve fazer adiamentos muito extensos de uma vez só, para não assustar. O melhor é fazê-los gradualmente. Assim, ninguém nota o tamanho do atraso do projeto.

• Também não é preciso gerenciar os custos. Afinal, aquele orçamento que você apresentou na hora da venda certamente vai estourar. Aqui vale a mesma diretriz dada no gerenciamento do tempo: convém fazer as ampliações de estimativas de custos sempre gradualmente, para ninguém perceber o rombo no orçamento do projeto.

• Não é necessário gerenciar a qualidade. Afinal, do jeitoque ficar, ficou, e o cliente vai ter que aceitar mesmo. Ou vai ter que pagar mais e aguardar ainda mais tempo. Muito simples.

• Não é preciso gerenciar as pessoas. Afinal, pessoas não têm a menor importância em um projeto. Os envolvidos no projeto já devem saber que precisam ser comprometidas com os resultados, saber trabalhar sob pressão em tempos de crise, e ser sempre proativas. Ou seja, basta deixar as pessoas trabalhando, que elas “se viram nos trinta”.

• Não é necessário gerenciar a comunicação. Aliás, é melhor que nem exista comunicação em um projeto, pois isso apenas atrapalha. Imagine se todos os envolvidos pudessem conversar sobre o projeto... eles poderiam trocar ideias, ou, pior, poderiam propor alterações no andamento do projeto... isso só iria gerar ainda mais trabalho, o que é péssimo.

• Evidentemente, não é preciso gerenciar os riscos de um projeto, pois um projeto não tem riscos. Afinal, isso é apenas conversa de gerentezinhos teóricos, medrosos e sem prática.

• Por fim, não existe a menor necessidade de gerenciar a integração entre os diferentes aspectos de um projeto. Afinal, é tudo muito simples: basta colocar a carroça a andar, para que as melancias se acomodem.

Siga estas dicas e você conseguirá um projeto perfeitamente esculhambado. :-}